Os irmãos Wachowski, responsáveis pela trilogia "MATRIX", contrataram o diretor australiano James McTeigue para transpor para a telona a "graphic novel", quer dizer, o "gibi" de David Lloyd e Alan Moore. Num futuro próximo, após enfrentar os EUA numa guerra, a Inglaterra sucumbe ao regime do ditador Sutler (John Hurt), que se aproveitou do país estar afundado num caos sem fim para ganhar as eleições e não mais largar o poder. Em alguns aspectos o filme lembra "1984", de George Orwell. Sutler passa a controlar a mídia do seu país. Todas as matérias têm de passar pelo seu crivo ou de seus associados. O tirano permite que experiências médicas sejam feitas com a ralé da sociedade britânica (ou de qualquer outro lugar do mundo): pobres, rebeldes, estrangeiros e revolucionários. O único sobrevivente dessa empreitada é um homem cujas queimaduras por todo o corpo façam com que ele use sempre uma máscara. Ele é conhecido pelo codinome "V" (Hugo Weaving, um dos três homossexuais que fizeram furor na década de 90 no filme "PRISCILLA - A RAINHA DO DESERTO"). Seu desejo é exterminar o regime opressivo reinante. Sua eloqüência é um dos pontos que mais chama a atenção. Ao contrário da maioria dos heróis que saem distribuindo socos e tiros a esmo, coisa que "V" também sabe fazer com maestria, ele tem o dom da oratória. Um líder que aprecia a música "Cry me a river', cantada por Julie London, não por Wanessa Jackson, e que se emociona cada vez que assiste as aventuras de Edmond Dantes no filme original de "O CONDE DE MONTE CRISTO", só pode ser do bem. Por um acaso, Evey (Natalie Portman), torna-se sua aprendiz. Ela é salva quando andava pelas ruas de Londres, em pleno toque de recolher, e dois indivíduos que trabalhavam para o governo iriam estuprá-la. Eis que surge "V" e elimina os funcionários públicos transgressores. Quem primeiro é fisgado pela paixão é "V". No final a paixão que nunca se concretizará é bilateral. Muita gente tem criticado o filme por incentivar o terrorismo a as ações individuais, como se fosse um apelo a todos aqueles que vão ao cinema se tornarem homens ou mulheres-bomba e implodirem prédios. Não duvido que os irmãos Warchowski serão intimados pela justiça a se explicarem pelos acontecimentos de 11 de setembro de 2001. Isso é o que eu chamo de leitura radical de um filme.