Assim como as franquias Carga Explosiva e Velozes & Furiosos, a franquia de filmes Resident Evil, que atualmente já conta com cinco longas e é uma adaptação do jogo homônimo, é a famosa produção "boca do povo". O que isso quer dizer exatamente? Simples: os filmes aqui citados em sua maioria não são um belo sucesso de crítica — exceto os três últimos Velozes & Furiosos —, mas conquistam o público, que apesar de saber que realmente são ruins, curtem o bom ritmo e as cenas de ação alucinadas — além da dinâmica dos personagens que atrai ainda mais o público para as poltronas. Mas será que assim como Carga Explosiva e tantos outros filmes massacrados pela crítica e queridinhos do público, Resident Evil merece mesmo tanta negatividade do ponto de vista dos especialistas? A resposta é clara: sim e não. Uma crítica é apesar de tudo uma opinião alheia com bons argumentos construtivos. E na minha humilde opinião como espectador Resident Evil 3 — A Extinção se prova um filme bom ao cumprir com a sua premissa. Sendo assim, vamos aos argumentos.
Resident Evil 3 — A Extinção, de 2007, segue os acontecimentos de Resident Evil — Apocalipse; o vírus T finalmente se espalhou pelo globo e a população que se tornou resquício de grupos de sobreviventes vive agora sobre um holocausto. Alice (Milla Jovovich), agora peregrinando como uma solitária, reencontra seu antigo grupo agora ainda maior, e com uma pontinha de esperança — presente nos rabiscos de um caderno — o grupo tentará imigrar para o Alasca, aonde acreditam ser um dos únicos lugares livre de infecção.
O terceiro longa da franquia de zumbis sai das mãos de Alexander Wiit e cai nos colos do diretor Russel Mulcahy. O australiano já havia dirigido grandes sucessos, como Highlander, o Guerreiro Mortal (1986) e sua sequência de 1990 — Highlander II - A Ressurreição. Então grande expectativa norteava a terceira produção dos filmes estrelados por Jovovich. E felizmente, para os fãs da franquia dos filmes, ela conseguiu ser atendida.
Tecnicamente, sendo uma sequência, A Extinção, no geral, não oferece nada de novo: o roteiro de Paul W. S. Anderson — que também é produtor — apresenta o grupo de sobreviventes enclausurados em determinado lugar e tentando se ater a um fio de esperança para se livrarem da ameaça que é o vírus T. Então a grande surpresa — além de novas revelações acerca da protagonista Alice, que direi mais para frente — na verdade se revela o cenário, a ambientação. Assim como os jogos, desde o seu primeiro longa — Hóspede Maldito (2002) — as adaptações cinematográficas ofereciam cenários novos e inusitados. E se no filme de 2002 tínhamos uma instalação científica, enquanto no de 2004 tínhamos a cidade de Raccon City apocalíptica, a sequência de 2007 oferece um cenário desértico, e não há como se lembrar em cada cena da franquia Mad Max estrelada por Mel Gibson.
Se lembrar dos filmes de George Miller durante Resident Evil 3 não se deve somente a ambientação, mas sim também a estética do filme propriamente dita: a falta d'água generalizada, a busca ensandecida por gasolina — o que sustentava o roteiro de Mad Max 2 - A Caçada Continua (1982) — e o comportamento humano que se torna selvagem pelo fato de parte da humanidade que sobrou estar vivendo como animais. Sendo assim, todos esses fatores visivelmente inspirados em Mad Max contribuem para o filme ser algo a mais do que um mero longa que se trata de apocalipse zumbi.
As Corporações Umbrella continuam cruéis — com o cientista Dr. Sam Isaacs (Iain Glen) sucumbindo totalmente a vilania —, mas se tornam cruéis até demais que viajam de uma maneira que destoa mais ainda do restante do tom do filme. Desde Hóspede Maldito, Alice vinha ganhando certa importância gradativamente, com novas informações sendo inseridas a cada longa. Só que em Extinção essas informações viajam demais, indo para um sci-fi futurístico e saindo do fator zumbi, fazendo até com que Alice vire uma telicinética (?). E ao longo de toda a duração você fica apenas se perguntando — apesar da personagem ter certo motivo plausível para se tornar experimento — por quê?! Por que dar poderes a protagonista e transformá-la num X-men?! E esse por quê, acredite, nunca é respondido.
Alice — que apesar de viver literalmente na poeira permanece com o rosto maquiado e perfeito ao longo do filme — volta nesse filme como uma solitária, e se junta novamente a L.J. (Mike Epps) e ao soldado Carlos Oliveira (Oded Fehr) na metade do filme para frente. Só que... Não há uma citação sequer explicando como o grupo se separou, descartando completamente o segundo filme e desrespeitando todo o seu trabalho, e em nenhum momento há um diálogo no qual se explique aonde foi parar a personagem de Sienna Guillory, Jill Valentine, que havia sido uma surpresa para os fãs do jogo, já que era a única personagem retirada do video-game e acaba sumindo misteriosamente — não, ela não some, é simplesmente descartada.
Clichês inevitáveis também acompanham esse filme, contudo são bem executados. Uma prova disso é a batalha final que consegue superar em todos os aspecto as dos outros filmes — e ainda usa o cenário da casa que protegia a Colmeia. Alice se prova mais uma vez bad-ass e se torna a Tenente Ellen Ripley (Sigourney Weaver) do novo século. É triste dizer isso, já que Resident Evil apresenta várias falhas e não chega aos pés dos dois primeiros Aliens, mas como diria o poeta "é o que temos para hoje".
O filme de Mulcahy traz, apesar de tudo, novidades: o medo. Muito diferente de Hóspede Maldito, Apocalipse tinha certa atmosfera de terror — estragada somente pelas cenas de ação que clamavam por mais atenção. Em A Extinção a franquia recupera a atmosfera, usando uma boa fotografia para esconder o necessário e revelar quando é preciso, e usando bem o elemento do susto sonoro — sim, é possível dar uns pulinhos na cadeira com Resident Evil 3.
Resident Evil 3 — A Extinção consolida a franquia de adaptações dos jogos como filme "boca do povo". Definitivamente é algo triste de se dizer — os fãs dos jogos que o diga —, mas por ser um filme nada pretensioso e de ser um entretenimento despreocupado, a franquia não mereceria mais que isso.
Nota: 7,4/10