É sempre muito difícil avaliar um filme.
Para mim, analisar o conjunto da obra é sempre a parte mais importante, e a o que requer mais cuidado.
Afinal, o que faz uma boa história não é apenas o que acontece na tela, mas também como os elementos que compõem o roteiro estão ligados entre si, se a lógica por trás das escolhas do diretor na hora de direcionar a trama "casa" com o nosso raciocínio lógico, se ele consegue nos convencer de que aquilo, faz algum sentido. Para mim, no fim, na combinação de fatores que determinam se gostamos ou não de um filme, acaba sendo este o que talvez tem a maior relevância.
Estou dizendo isso porque ao avaliar "Fora de rumo" ("Derailed") de 2005 do diretor sueco Mikael Håfström, me encontro um pouco em dificuldade. Como avaliar um filme visualmente bom que te prende por 2/3 do tempo, mesmo com algumas situações questionáveis, para depois no final, apresentar não uns furos, mas umas "crateras" no roteiro?
Big trouble.
O leitor não se preocupe, não irei dar spoilers aqui, mas fique sabendo que, mesmo não mencionando-os, são vários meus questionamentos à respeito.
Baseado no romance do escritor James Siegel, "Fora de rumo" tem como protagonista Clive Owen no papel de Charles, um executivo casado com Deanne, uma mulher linda, mas meio sem graça (Melissa George) e que está guardando dinheiro para o tratamento da filha que sofre do pior tipo de diabetes existente. A menina já foi submetida três vezes a transplante de rim e nos três casos o organismo dela rejeitou o órgão, mas o pai ouviu dizer que um remédio que garante 99% de sucesso está para ser aprovado; o único inconveniente é o preço estratosférico, por isso ele está economizando.
Um dia, no trem, Charles conhece Lucinda (Jennifer Aniston) uma mulher fascinante e estilosa que o seduz: a atração leva os dois para um motel barato onde, poucos instantes antes do adultério se consumar, um sujeito armado (Vincent Cassel) entra no quarto, bate em Charles e sob a ameaça da arma estupra Lucinda. Depois de roubar o dinheiro do casal, não contente, ele começa a chantagear Charles, exigindo que ele pague cada vez mais dinheiro em troca do silêncio dele sobre o relacionamento (que na verdade nem aconteceu).
Se o lado do suspense funciona, o mesmo não pode ser dito sobre alguns dos personagens e sobre a dinâmica de algumas situações que realmente desafiam a lógica mais "ilógica". É justamente aqui que o filme perde pontos e joga por água abaixo tudo que foi construído com certa competência até o momento.
Uma ocasião desperdiçada. No fim, "Fora de rumo" acaba fornecendo uma piada pronta para o crítico e faz jus ao título: um filme não completamente ruim, mas que poderia ter sido infinitamente melhor.
Do mesmo diretor vale muito mais a pena assistir a "Garotas selvagens" de 1998.