Lembram-se do jogo "war"? Aquele que você tem de conquistar continentes para ser vencedor? Na sua versão argentina, ele conta com um território que o jogo brasileiro não possui. Seu nome é Kamkatcha, localizada na Ásia. O personagem principal, Harry (Matías del Pozo), um garoto de 10 anos de idade, costumava jogar "war" com o seu pai. E na única oportunidade que poderia conquistar todo o mundo, o pai (Ricardo Darin) resistiu no único território que possuía: Kamkatcha. O filme tem como mote a resistência. No caso, o combate ao regime militar argentino na década de 70. A família de Harry tem de se refugiar das garras da ditadura militar. Passam a ocupar uma casa no interior, afastada de Buenos Aires. A narrativa ocorre sob a ótica do menino. Nós só sabemos da situação política indiretamente. Não estamos diante de um filme que aborda a história oficial, parodiando o título que deu o Oscar de melhor filme estrangeiro para a Argentina, em 1986. Por mais paradoxal que possa parecer, o fato de conviver com a família por 24 horas por dia, isolados de todos os eventos sociais, fez com que Harry desfrutasse desse período. Aqueles pais - a mãe é interpretada pela excelente atriz Cecilia Roth - que presumivelmente passavam boa parte do tempo se dedicando ao movimento político esquerdista, deixando os seus dois filhos com amigos, começaram a conviver de forma interrupta. Ao olhar a família de Harry, esquecendo-se do período histórico em que ela vivia, tudo faz lembrar um "lar" como outro qualquer. Tudo parece mágico para Harry. Por sinal, o menino acha um livro sobre a vida do mágico, melhor dizendo, escapista, Houdini, que ele saboreia. A maior de todas as mágicas seria que aqueles dias no interior da Argentina fossem intermináveis. Nem Houdini conseguiria tal proeza.