Sam Raimi tinha uma franquia lucrativa nas mãos. Os dois filmes anteriores do herói aracnídeo tinham obtido um estrondoso sucesso. Agora, a produtora queria um filme do Venom, um dos vilões preferidos dos fãs. O problema é que o diretor já havia declarado diversas vezes que odiava o tal vilão e nunca iria fazer um filme com ele. Mas a pressão foi grande, e o resultado foi esse “Homem-Aranha 3”, lançado em 2007, um filme que está longe de ser uma obra-prima, mas que também não é de todo ruim.
Assim como em “Homem-Aranha 2”, os eventos dos filmes anteriores são relembrados nos créditos iniciais. O herói (Tobey Maguire) está em sua melhor fase, e é adorado pelos cidadãos de Nova York. Seu relacionamento com Mary Jane (Kirsten Dunst) vai bem, e ele pretende pedi-la em casamento em breve. Mas, como nada é fácil na vida do Homem-Aranha, os problemas logo começam a surgir.
Vindo do espaço em um meteorito, uma estranha substância pega carona em sua motoneta e o segue até em casa. Logo em seguida, no encaixe mais desnecessário do roteiro, somos apresentados a Flint Marko (Thomas Hayden Church), fugitivo da polícia que matou Ben Parker. Mas não foi aquele sujeito do primeiro filme que matou o tio de Peter? Sim, mas para fazer com que o Homem-Aranha o persiga, os roteiristas mudam o assassino. Marko cai em um tanque durante uma experiência, e torna-se o Homem-Areia.
Para piorar, Harry Osborn (James Franco), que no final do filme anterior havia descoberto os equipamentos do Duende Verde, agora começa a usá-los para atacar o Homem-Aranha. Sem contar com o estranho simbionte que adere ao seu uniforme, modificando drasticamente sua personalidade.
Os efeitos visuais são de primeira linha, talvez os melhores da série. O boneco digital do Homem-Aranha está ainda mais convincente, e seus inimigos não ficam para trás. Especialmente a origem do Homem-Areia, por exemplo, é o momento mais bem feito plasticamente, nos permitindo analisar cada detalhe das partículas de areia que formam o corpo do vilão. A cena em que conhecemos Gwen Stacy (Bryce Dallas Howard), quando ela é fotografada enquanto um guindaste fora de controle destrói alguns andares do prédio, também é magnífica, de prender a respiração. Os passeios do herói por Nova York são muito bem filmados, um fato recorrente da série. A única ressalva é que, enquanto salta pelos prédios à noite usando o uniforme negro, perdemos um pouco do foco, já que ele se mistura com a escuridão das ruas.
Mas narrativamente o filme é falho. Por exemplo, temos uma Gwen mal aproveitada. Ela aparece no começo, beija o Homem-Aranha ao entregar a chave da cidade, e depois simplesmente desaparece, surgindo no final apenas para fazer ciúmes em Mary Jane. Assim como May Parker (Rosemary Harris): tão importante para Peter nos outros filmes, aqui ela aparece poucas vezes, e apenas para dar conselhos breves. Culpa do roteiro apressado, que de tanto inflar o filme de personagens novos e vilões dispensáveis, acaba por criar um filme mais longo que os anteriores (139 minutos), mas que falha principalmente ao tentar juntar todos os núcleos da história.
Vilões não faltam no filme: além do Homem-Areia e Harry como o “Duende Jr.”, ainda temos Venom, que adere ao corpo de Eddie Brock (Topher Grace). Apesar de ser divulgado como o vilão principal, ele só aparece no terceiro ato, decepcionando quem esperava mais tempo de projeção desse ser tão amado dos quadrinhos. Harry foi outro abandonado pelo roteiro: foi mais importante nos filmes anteriores, e se tornou apenas mais um vilão nesse filme, se sacrificando e tendo um final decepcionante. Uma pena, já que podia ser melhor aproveitado.
Isso sem considerarmos também as “coincidências” plantadas pelo roteiro: o meteorito que continha o simbionte cai bem atrás de Peter, sem que ele perceba, e cola em sua convenientemente em sua moto; Harry perde a memória “convenientemente” após uma cena importante, que poderia definir o filme logo ali; Flint Marko cai em um tanque a céu aberto bem no momento de uma experiência científica; Eddie Brock, após ser recomendado por Peter a pedir perdão na religião, vai à igreja pedir para que Deus mate Peter, e é tomado pelo simbionte, se tornando o Venom. Isso demonstra mais que tudo o cansaço de Sam Raimi na condução do filme, que fez o filme por pressão da Sony.
Mas o mais ridículo do filme é o “Emo-Parker”. Sob efeito do simbionte alienígena, ele torna-se um ser não só agressivo, mas também desleixado e engraçadinho, criando momentos de vergonha-alheia total.
O filme transcorre com um ritmo até aceitável, mas se perde no ato final. Tentando atar as pontas soltas, heróis e vilões se encontram em uma luta final empolgante, mas apressada. Apesar de ser boa, não tem o impacto desejado, por já estarmos cansados depois de duas horas de filme.
Não é um filme totalmente ruim. Os diálogos são bons, os atores estão esforçados, a parte técnica é perfeita. Mas faltou um pouco mais de cuidado e vontade na direção, o que afetou um pouco a história. Não é ruim, apenas inferior aos anteriores. Encerrou de forma razoável aquela que já pode ser considerada a trilogia clássica do Homem-Aranha, mas sem comprometê-la.