Nos dias atuais, uma tendência cinéfila tem mostrado certo direcionamento para histórias mais simples, onde um dos maiores atrativos são as ininterruptas evoluções tecnológicas, as quais, através de excepcionais efeitos especiais, por inúmeros instantes nos fazem esquecer da real trama traçada. Com isso, é cada vez mais evidente a procura por filmes em 3D e demais avanços técnicos, onde o conteúdo narrativo torna-se somente um segundo plano das atenções.
Entretanto, existem ainda longas baseados em histórias clássicas, momentos épicos e best-sellers, dos quais, indo de encontro a esta forte “maré” tecnológica, se consagram pela perfeita retratação circunstancial, interpretação animada de ações escritas, personificação de fatos meramente relatados, ou ainda, decodificação acurada da imaginação pela realidade. Exemplos destes podem ser citados como Um Olhar do Paraíso, A Cor de um Crime, Jogos Vorazes, A Menina que Roubava Livros, dentre vários outros.
Porém, tamanha introdução não vem de apenas para exaltar tais características peculiares de “Perfume” e sim de demonstrar que extrema dificuldade não foi encontrada exclusivamente em transparecer para a veracidade, os fatos narrados, mas também de enfatizar que tal façanha era considerada “inadaptável” para a linguagem cinematográfica. Com isso, sendo considerado uma raríssima proeza, da qual o alemão Bernd Eichinge (diretor) se afamou em louros pela magnitude que tal obra prima tomou.
Inicialmente, o longa relata a história de Jean-Baptiste Grenouille (Ben Whishaw), o qual teve seu nascimento, no mínimo heterodoxo, de cujo choro (atitude de sobrevivência) fez com que fosse notado por outros na feira de peixe, desta forma sendo entregue a um orfanato, onde foi explorado, juntamente com outros órfãos. Com o decorrer da trama, Baptiste descobre uma dádiva singular de cunho olfativa, a qual ao passar dos tempos foi aprimorada, de tal forma que essências eram facilmente identificadas a distâncias incríveis.
Todavia, após breve momento de aprendiz de perfumista com o outrora renomado Giuseppe Baldini (Dustin Hoffman), Jean demonstrou ímpeto e destreza na absorção de aromas e para tanto, através de toques profissionais, o mesmo aperfeiçoou suas técnicas, criando, desta maneira, um desejo insaciável de extração e compilação eficaz de fragrâncias oriundas dos mais inusitados, inóspitos e obsoletos materiais, e assim uma obsessão foi crescendo em progressões geométricas. Somando-se a esta ambição desmedida, Jean teve ciência de uma profecia divina, a qual através da sublime união de essências matrizes, formaria um perfume único de poderes olfativos celestiais.
Através de um anseio incomensurável, seguido de atrocidades e atos delituosos, Bem Whishaw presenteia-nos com atuações autênticas, onde a eficácia de seus objetivos, demonstram maior valor sobre sua eficiência. Isto posto, ao deter desfecho épico, de resolução imprevisível e notável, “Perfume” prova que não só de tecnologia de ponta se faz uma divina obra cinematográfica. Nota 4,5.