Uma viagem alucinante através da nossa própria identidade, física e metafórica, um jogo de gato e rato em busca do milagre, uma critica constante a religião e um amor declarado ao misticismo misturado com o mais puro e belo cinema são os elementos que compõem "A montanha Sagrada" filme do Jodorowsky que prende o telespectador do inicio ao fim, seja por sua beleza, mensagem ou pela estranheza.
Em uma primeira olhada temos um roteiro simples, que conta a historia de um grupo de pessoas poderosas que seguem um líder até uma montanha que lhes concedera a imortalidade, mas não é bem assim, primeiro somos jogados do ponto de vista do nono e ultimo integrante, que parece desfocar do restante, sua existência já é uma justificação histórica e religiosa, sua breve jornada de autoconhecimento, milagres, amor e descobertas até chegar ao personagem do líder que o purifica e lhe da uma aurea ainda mais espiritual, são belas e já deixam o telespectador pronto para o que vem a seguir, o roteiro muda seu ponto de vista diversas vezes, e isso contribui para dar aprofundamento a obra, porém os personagens em si são muito bidimensionais, mas é difícil falar sobre um roteiro que carrega consigo inúmeras alegorias misticas, uma jornada do herói clara e um final anticlímax com uma lição de moral, alguns erros de continuísmos e confusões são constantes durante a obra, mesmo com um roteiro que apresenta problemas, isso fica pequeno no filme, visto sua beleza estética.
Jodorowsky já disse uma vez que o ser humano é um animal semântico que não se surpreende mais com palavras, isso talvez explique o constante uso de imagens que causam espanto, graça ou aflição, a comunicação visual do diretor mexicano é unica, mesmo talvez não entendendo sua alegoria, podemos entender o resumo de sua mensagem, seja as criticas a religião católica ou as criticas ao próprio telespectador, que não quebra a barreira áudio visual e fica preso a necessidade de juntar logicas, de forma análoga, ele liga isso a dificuldade de chegarmos a imortalidade, não a física, mas a intelectual, ironias a guerra e consumismo, além de provocações politicas e religiosas são muito presentes, e captamos isso em meio a sua loucura visual, ao menos o resumo, ao menos o semântico, Jodorowsky fala muito em seus filmes, mas compreender toda a mensagem é difícil, visto que o diretor tem sua própria e metamórfica filosofia. Jodorowsky é um bruxo, um escritor e um mago, até palhaço o citado já foi, agora emprega tudo isso em seus longas, repletos de simbolismos e beleza.
A composição de cenário, figurinos, maquiagens, trilha sonora e fotografias são impressionantes, toda a direção de arte em si é primorosa, com cenários cheio de vida e sentimento, muito efeito pratico e cuidado em cada detalhe ajudam a compor um filme que esteticamente é perfeito, grandioso e que consegue transmitir sua pluralidade e grandiosidade apenas visualmente, Jodorowsky foi figurinista, maquiador, conduzi-o a câmera e até ajudou a construir e pintar cenários, tal cuidado traz como recompensa um filme atemporal, que não envelhece ou fica datado, e que a cada década, parece que fica mais bonito.
Alguns aspectos de direção precisam ser citados, como a condução da câmera que é usado de diversas maneiras, não temos um continuísmo de condução, o diretor enquadra como achar melhor para a cena, mas é perceptível o seu apreço a uma câmera alta na grua, que ajuda a embelezar mais seu cenário e fotografia, clara com uma iluminação perfeita, uma trilha sonora que segue a mesma logica, que traz rock e pop mas se concentra principalmente em uma musicalidade clássica e oriental, carregando ainda mais o tom mistico da obra, a montagem apresenta três atos bem definidos, embora os dois primeiros sirvam de apresentação, o que é pouco usual, mas funciona, e o filme não cansa em nenhum momento.
Até em termos de atuação o grande destaque é Jodorowsky, com seu mistico personagem, o "Alquimista" que serve de fio condutor que permeia a obra toda, embora todo o cast seja bom e cumpra bem seu papel.
"A montanha sagrada" não é um filme para todos, fás de cinema magico o cultuam, adoradores de cinema extremo enxergam sua beleza, mas agradar todos os públicos, o longa quarentão não vai, visto sua estranheza que na época já havia desagradado bastante, e hoje em dia, deve desagradar ainda mais, mesmo assim, o cinema magico de Jodorowsky é belíssimo, vai alem de suas duas horas de duração, sua experiencia cinematográfica, mensagens e direção pregam a verdadeira imortalidade através das décadas do cinema, uma belíssima e completa obra que respira e transpira o Audiovisual e é a cara do cinema rebelde e transgressor dos anos 70. NOTA 9/10