O diretor italiano aborda um tema dos mais interessantes: a relação médico-paciente se excedendo por completo seus limites. O quadro ganha interesse quando o médico em cena é Carl Gustav Jung, psiquiatria, criador da Psicologia Analítica, em quem Sigmund Freud depositava todas as esperanças de ser o seu sucessor na disseminação do pensamento psicanalítico pelo mundo. Na época em que Jung era discípulo de Freud, a psicanálise estava restrita á cidade de Viena e a seguidores de origem judaica. Nesse sentido, Jung poderia levar a psicanálise para fora do "gueto" judaico, além de ser uma mente fulgurosa, que em muito iria robustecer a teoria freudiana. O início do trabalho de Jung se deu numa clínica psiquiátrica na cidade de Zurique, Suiça. Criou o teste de associação de palavras, através do qual media as reações dos pacientes quando determinados vocábulos eram ditos. Era a aurora da formulação do sua teoria. Uma de suas pacientes era a bela jovem russa Sabina Spielrein (Emilia Fox, em excelente atuação), portadora de um quadro de histeria. Os dois se apaixonam e têm um caso amoroso após o tratamento. Jung era tão preocupado com a paciente que chegou a levá-la a uma doceria de Zurique, pois ela não estava se alimentando. Também sabia de que seus sonhos eram preditores do que acontecia com as pessoas à sua volta, e tal é o caso de Sabina (ele vai ao quarto de Sabina no Hospital no meio da noite, pois havia sonhado que a mesma tinha fugido). A vida sexual de Jung com a sua esposa Emma não parecia ser das mais atraentes. Por outro lado, Sabina trazia uma sensualidade que o psiquiatra, filho de um pastor luterano, que o envolveu por inteiro. Pelo menos por um período pequeno de tempo. Jung chegou a escrever para Freud, seu pai espiritual naquele período, pedindo que o aconselhasse. É claro que Freud sugeriu que o relacionamento de Jung com Sabina terminasse imediatamente. Era tamanha a paixão de Sabina por Jung que ela cursou a faculdade de medicina em Zurique e se especializou em psicoterapia infantil. Este é o ponto fraco do filme, quando Sabina retorna para a Rússia, no período imediato após a revolução de 1917, e passa a dirigir uma escola para crianças, onde implanta suas concepções teóricas. O diretor Roberto Faenza, então, cai na armadilha da adulação gratuita, tornando a personagem uma espécie de deusa. Toda a trama é conduzida por dois personagens no tempo atual, Maria (Caroline Ducey) e Fraser (Craig Fergusson) que vão até a Rússia descobrir os últimos vestígios da escola que Sabina dirigiu 80 atrás. Essa espécie de "história oficial" não interessa. O filme seria muito melhor se o seu foco principal fosse centrado exclusivamente na relação JUNG-SABINA.