Baseado na obra de Joseph Kessel, premiado escritor francês, retrata a história Séverine (Catherine Deneuve) uma jovem burguesa casada com o cirurgião Pierre Serizy (Jean Sorel), com o qual tem um relacionamento um tanto frio e com nenhum desejo sexual, decidindo passar as tardes trabalhando no bordel Madame Anais. Diferentemente de outras jovens, que entraram na “vida fácil” por necessidade, Séverine resolve prostituir-se por prazer e vontade própria e talvez por isso seja a razão por ser mais requisitada que as outras.
Séverine é por um lado uma moça comportada, com bons modos, bem casada e aparentemente frágil; por outro é um tanto fria e com constantes devaneios sexuais, nos quais explicitamente sente prazer em ser humilhada, amarrada e estuprada. No entanto, não se trata de uma jovem de "duas faces" , ao contrário, Séverine é uma só, com todas as contradições e crises existenciais presentes na vida de qualquer outro ser humano. Toda as suas ambiguidades caminham juntas em suas escolhes, como ocorre quando ela sobe as escadas em direção à Madame Anais e quando atende seu primeiro cliente: ela reluta em satisfazer seus desejos, há a dúvida e inquietação, afinal era ali que ela ela rompia com os bons costumes aprendidos ao longo de sua vida. O que a diferencia de outras moças é a coragem que teve para realizar seus mais obscuros desejos. Nesse quesito, deve-se destacar o profissionalismo de Deneuve, no auge de sua carreira e beleza, soube interpretar muito bem as "duas Séverines": a Séverine esposa e a Séverine meretriz, a Bela da Tarde.
O real e o onírico se misturam, traços das tendências surrealistas de Luis Buñuel, o genial diretor do filme. Por que Séverine comporta-se desta maneira? Sentiria ela prazer em relacionar-se somente com estranhos? Seria essa escolha fruto de algum abuso em sua infância? Quais seriam os motivos pela sua frieza com seu generoso marido, quando ao mesmo tempo sente prazer em ser humilhada? Buñuel, na verdade, não dá respostas, apenas abre margem a diversas perguntas sem dar justificativas. O final, coube perfeitamente ao filme e ao estilo surreal de Buñuel:
o marido de Séverine que estava paralítico, levanta-se da cadeira e sorri para ela, no fundo há o som de uma carruagem.
Não é possível inferir se foi um sonho ou realidade.
Uma ótimo escolha para quem gosta de um filme que saia do comum e que misture realidade com ficção.