NEM ERA TÃO SEGREDO ASSIM...
por Roberto CunhaTexto publicado originalmente em 2005.
Assistir um filme muito badalado é sempre uma tarefa das mais difíceis. Primeiro porque já existe toda uma expectativa por conta dos inúmeros comentários, indicações e "tititis" sobre a produção. Mas o pior mesmo, sem sombra de dúvida, é constatar logo de cara que vai ser complicado concordar com a maioria.
O tão falado filme de Ang Lee não é nada de mais. E isso não é novidade nenhuma. O diretor já se envolveu em produções que não condizem com sua competência como Hulk, mas quem assistiu "Comer, Beber e Viver" e Razão e Sensibilidade sabe que ele pode mais. Basta curtir seu roteiro e direção em Banquete de Casamento e ver que ele consegue falar de homossexualismo de uma maneira muito mais interessante - e bem humorada -, mexendo com os dogmas e as tradições de uma cultura milenar.
Então, qual é o segredo deste novo filme que é franco favorito ao Oscar? A ousadia. Não é preciso ser nenhum gênio para creditar a visualização nua e crua de dois homens se beijando e trocando carícias nas telas de cinema como uma das principais razões. Tabu. Claro que existem outros pontos interessantes além do casal gay nessa - longa - história de amor.
Algumas cenas sem diálogos são legais. Desde as trocadas pelos dois protagonistas como as da esposa de Jack e também aquela em que são flagrados pelo capataz. Traduzem mais do que muitas palavras. A fotografia, por exemplo, é um espetáculo a parte. A tal montanha, palco das peripécias dos cowboys, é bonita de verdade.
A trilha sonora, apesar de indicada ao prêmio máximo do cinema, soa repetitiva. Poderia ter sido melhor. O elenco enxuto está bem. Jake Gyllenhaal vem trilhando caminhos diferentes e pode até conquistar a cobiçada estatueta do Oscar. Heath Ledger (Jack Twist ) também está bem no papel daquele que é, mas não sabia - ou não aceita - que era. Michelle Williams, a Jen do seriado "Dawnson' Creek", interpreta bem Alma, a esposa de Jack Twist. Anna Hathaway, mais conhecida por aqui por sua participação no pequeno O Diário da Princesa, faz o feijão com arroz e não compromete.
Uma das coisas que podem incomodar é a falta de um certo clima entre os dois no início da história. Já começa de cara com olhares escancarados, mas sem sal. Falta um certo tempero, se é para falar de amor. Tudo acontece muito rápido e não envolve o espectador. Talvez fosse essa a intenção. Sair do lugar comum e partir logo para os "finalmente", como diria o saudoso Odorico Paraguassu, da obra de Jorge Amado.
Mas a cena da primeira vez deixa a desejar tamanha a facilidade que consumam o ato. Sharon Stone e Kim Basinger, rainhas das transas e orgasmos no melhor estilo fast food, que o digam. Não dá para acreditar. Mas, se foi bom para você? Então está ótimo.