Entre os grandes diretores norte-americanos vivos, Brian De Palma é um dos poucos que jamais foi agraciado com o Oscar, sequer lembrado até hoje, apesar de ter coisas boas no currículo (O pagamento final, Scarface), talvez por muitas vezes limitar-se a reciclar velhas idéias e promover refilmagens disfarçadas, sobretudo de obras de Alfred Hitchcock (Dublê de corpo, Vestida para matar). Sua carreira andava meio por baixo depois de dois filmes mal recebidos pela crítica (Femme fatale e Missão Marte). Com este A dália negra, no entanto, ele não apenas consegue se reerguer como ainda se apresenta como forte candidato ao prêmio máximo do cinema para 2007. O filme é perfeito em quase todos os sentidos: ótimo roteiro (de Josh Friedman, baseado no romance homônimo do especialista James Ellroy), figurinos impecáveis, excelente fotografia (do mestre Vilmos Szigmond), primorosa reconstituição de época e bela trilha sonora. A trama é tortuosa, complexa, mas sempre absorvente e fascinante, em seus meandros de sordidez e crueldade. Faço ressalvas apenas ao elenco. Embora todos os atores estejam bem escalados em seus personagens, particularmente não acho que Josh Hartnett tenha peso e gabarito suficientes para sustentar um protagonista de tal envergadura, que transita entre o desencanto e a obstinação. Scarlett Johansson tem poucas chances como seu interesse amoroso, na maior parte do tempo limitando-se a fazer apenas caras e bocas. E Hilary Swank não tem a beleza exigida pelo papel, uma mulher sedutora e vingativa. Já Aaron Eckhart, ator preferido de Neil LaBute, compõe bem seu ambíguo personagem. A canadense Mia Kirschner (a dançarina de Exótica) interpreta a atriz assassinada aparecendo em cenas em flash-back. Mas o grande destaque fica para Fiona Shaw, que dá um banho de interpretação no papel da mãe enlouquecida. Ela aparece apenas duas vezes, mas rouba ambas as cenas. Grandes momentos: a luta de boxe entre os detetives, o atentado na escadaria, o jantar na casa de Madeleine Linscott e a descoberta do corpo da atriz, uma cena carregada de tensão embora nenhum detalhe seja mostrado na hora (só na cena final vemos o corpo). Um grande filme, aula de cinema e uma bela homenagem ao film noir.