Um filme decente dos anos 90, mas nem um pouco memorável. Luc Besson dirigindo o filme, opta por um caminho padrão e sem muito destaque, alguns usos de "slow motion" razoavelmente gratuitos, certos "close-ups" em determinadas situações e sequências de ação medianas quando necessário. Não chega a ser um trabalho de direção ruim, até porque ao seguir um direcionamento pouquíssimo inovador, Besson consegue escapar de problemas sérios, seja narrativos ou estéticos, que poderiam diminuir ainda mais o longa, mas apesar de tudo, Luc opta por um desenvolvimento de trama razoavelmente subversivo, ao focar bem mais na ''psique" e construção da protagonista, que na ação em sim, tornando o filme, um tanto inovador, de fato, um mérito que deve ser ressaltado.
O roteiro é interessante, apresenta uma história realista, com um "background" funcional para a organização por trás da trama. A partir do 2º ato, o enredo segue por um caminho até inesperado, mas o roteiro ainda funciona, sem perder o público, além de apresentar uma relativamente boa construção para os personagens principais, mas aqui com ressalvas.
Anne Parillaud entrega uma boa atuação como protagonista, sua Nikita, passa por uma evolução e amadurecimento durante a trama, a personagem, que desperta a antipatia do público logo nos primeiros minutos ao executar um crime hediondo, também consegue uma simpatia em algum momento do 2º ato, ao expor seu desejo por uma vida tranquila e longe da viôlencia que a tanto marcou, Parillaud também brilha nos momentos em que insere um lado vulnerável em sua personagem. Porém, é aqui que as ressalvas do roteiros surgem, a protagonista assume uma postura extremamente incoerente na reta final do 3º ato, tendo em vista sua "psique" desenvolvida até aquele momento, (sem spoilers) ela passa por um choque e passa a agir de forma desesperada, mas tal mudança é feita de forma bem sem sentido, tendo em vista tudo que ela já foi capaz de fazer.
Tchéky Karyo também funciona como Bob, o ator tem carisma, possui uma relação bem construída com a protagonista e tem motivações claras, mas o personagem (spoilers leves) a partir de determinado momento do filme, é tratado de forma caricaturamente "vilanesca" pelo roteiro e direção, em um arco bem mal-desenvolvido. Jean-Hugues Anglade, funciona como interesse amoroso de Nikita e também tem carisma, e Jean Reno tem relevância somente a partir do 3º ato, em uma atuação apenas funcional. A trilha sonora é funciona, e a fotografia é boa, com belas composições entre o branco, azul e vermelho.
Nikita é um bom filme esquecível, não é extremamente problemático, mas também não possui méritos suficientes para ser considerado memorável ou marcante, felizmente anos depois o cineasta, dirigiu o muito superior: Léon.