Futebol é aquele tema que nenhum diretor pensa em fazer, pois fazer significaria ter que filmar jogos, encenar com jogadores famosos, falar sobre times e seleções do mundo da bola, correto? Não, em O Milagre de Berna o diretor e o roteirista conseguem fazer do futebol um belo tema, e fazer do filme um verdadeiro gol de placa. A diferença desse para outros filmes como Gol (1 e 2, quem não acompanhou Santiago Munes no Real Madrid) e Maldito Futebol Clube é que esse filme trata do futebol como ele deve ser tratado, como uma cultura, como a história de um povo; e aqui o milagre ocorre numa Alemanha ainda fragilizada pela Segunda Guerra Mundial, e que sofre com a separação da Alemanha Ocidental e Oriental. A história é de um garoto alemão típico, apaixonado por futebol, patriota e.... e loiro, esse menino tem um pai ausente que foi para Guerra, e volta pretendendo modificar as regras da casa, e tem a missão de ajudar uma das revelações alemãs da época. O futebol é comparado a família do garoto. A seleção entra em crise por ter perdido vergonhosamente para Hungria, e a família também, pois o pai estava fora mas quando volta a casa vive a base de gritos e regras. Conforme o filme avança, avança a Copa do Mundo, e também evolui a relação familiar. O estopim é o final, onde tem a primeira, e única, partida filmada do filme - exatamente, é um filme de futebol que não tem cenas de jogo, e sim várias narrações épicas de rádio - e nessa partida está tudo em jogo: a seleção que ninguém acreditava e a família Lubenski.
O influência do futebol na vida da sociedade alemão em crise é evidente, e o filme retrata a relação direta que um povo tem com o esporte, ou com algo cultural, no caso o futebol. Tem belas cenas dramáticas, muito bem interpretadas pelo elenco alemão, tem belas cenas de jogo da partida final da Copa, tem depoimentos inesquecíveis, além de uma leve e muito perceptível comparação entre a figura do pai, e do técnico; assim como Filipe Scolari para seleção brasileira, o técnico é obrigado a ser o pai desta seleção cheia de estrelas alemãs.
Para dar o apito final, a película conta com uma belíssima trilha sonora, e uma grande demonstração de patriotismo, que em 2005 antes da Copa do Mundo de 2006 (na Alemanha) era ótimo afinal o comite organizador na época estava preocupado que a seleção desse vexame depois da final contra o Brasil em 2002. É evidente o sofrimento que o povo alemão ( e todo o mundo) sente pelo nazismo, e essa lembrança está presente na sociedade atual, é óbvio também que qualquer manifestação com bandeiras é preocupante para principal força economica europeia, mas - me desculpem - a cena mais marcante é quando toca o hino alemão e os jogadores cantam, uma verdadeira obra prima, assim como é uma obra prima o hino nacional brasileiro cantado a capela em jogos da seleção.