“Life of Pi” era um daqueles filmes que eu estava cheio de curiosidade em ver, tanto o poderio visual como a breve história que o trailer nos proporcionava foi o suficiente para ficar de imediato rendido e de certa forma sentir-me obrigado a ver o filme. O filme, realizado pelo Oscarizado cineasta Ang Lee, fez-me lembrar em vários aspectos um outro filme, nomeadamente “Slumdog Millionaire” de Danny Boyle, que em 2009 surpreendeu tudo e todos ao tornar-se um enorme sucesso de bilheteira e ao arrecadar 8 Óscares, incluindo o prémio de melhor filme do ano. Não devo ser o único a partilhar desta opinião, afinal de contas o filme passa-se na Índia e é protagonizado por actores indianos. Já em termos de história são poucos os aspectos semelhantes, “Slumdog Millionaire” é um filme bastante mais dramático e com um impacto emocional bastante maior mas, em contrapartida, “Life of Pi” é um filme visualmente muito mais poderoso e encantador.
Piscine Patel, é um jovem indiano que vive na zona francesa do país com a sua família, onde são donos de um zoológico. O seu nome significa “piscina” no vocabulário francês, o que levou a que fosse alvo de muitas críticas e gozos por parte dos colegas de escola. A sua inteligência é evidente, o que leva a que Pi se interrogue sobre muitas coisas, principalmente quando o tema é fé, Deus ou religião, levando-o a ser adepto de inúmeras religiões distintas. Ao atingir a adolescência, contudo, o seu mundo altera-se por completo. A família de Pi decide levar o zoo que administra para o Canadá, mas o navio em que viajam tem um acidente e acaba por naufragar. Todos os tripulantes (homens e animais) morrem nas águas geladas do Pacífico, excepto Pi, um tigre bengala que dá pelo nome de Richard Parker, uma hiena, uma zebra e ainda um orangotango. Estes cinco sobreviventes têm agora de partilhar um pequeno bote salva-vidas, mas o convívio entre Pi e o feroz tigre depressa se torna complicado e ameaçador. É aqui que Pi nos dá a conhecer a sua aventura, após perder todos aqueles que amava, tenta sobreviver e ao mesmo tempo redescobrir o amor de Deus.
Ang Lee usufrui como ninguém da tecnologia para nos trazer cenários absolutamente deslumbrantes e harmoniosos, submetendo o espectador a um poderio visual e auditivo que certamente não será esquecido. Nesta primeiro terço do filme tudo é belo, harmonioso e enternecedor, o que intensifica o contraste com o resto da película, em que tudo se torna cinzento e desolador. No momento em que a luta pela sobrevivência começa, o filme pode torne-se um pouco moroso e enfadonho para muita gente, muito por causa da narrativa de base que se resume a apenas duas personagens, sendo uma delas muda, e a um oceano sensaborão como cenário dominador. Em contrapartida é nesta altura do filme que nos são apresentadas inúmeras lições de moral, sendo a mais perceptível, o respeito demonstrado pela condição animal. “Life of Pi” é um filme com uma mensagem oculta muito forte, não é uma mera história de sobrevivência de um náufrago em condições desafiantes e quase impossíveis. Embora tudo isso esteja presente, é um simples apetrecho para um quadro de representações alegóricas de vários apanágios da vida: o instinto de sobrevivência, a fé e o afecto.
Na minha opinião, é neste filme que conseguimos ver toda a mestria de Ang Lee, ele conseguiu planos de câmara avassaladores, efeitos especiais brilhantes, que de resto proporcionaram a recriação perfeita de um tigre e ainda sons e imagens divinamente enquadradas, que se encaixam perfeitamente na trama.
“Life of Pi” além de ser, como já tinha referido, um filme em que mais de metade da sua duração é basicamente um monólogo, Suraj Sharma (Pi) conseguiu fazer esquecer um pouco essa vertente menos boa do filme, conseguindo uma interpretação excelente, fazendo de “Life of Pi” um dos grandes candidatos ao Óscar de melhor filme do ano.