O filme é baseado no livro homônimo do canadense Yann Martel.
O filme narra a historia de um homem chamado Pi(vivido pelos atores Gautam Belur, Ayush Tandon, Suraj Sharma e Irrfan Khan em diferentes fases da vida), que recebe a visita de um escritor (Rafe Spall), em busca de inspiração para um novo livro na promessa de que Pi lhe conte uma historia fantástica que lhe dê motivos para acreditar em Deus. A partir daí conhecemos através de Flashes Back a historia de sua vida e sua fantástica aventura por sobrevivência, num naufrágio, onde ele sobreviveu sozinho na companhia de uma hiena, uma zebra, um orangotango e um tigre de bengala, em pleno Oceano Pacifico por mais de 200 dias à deriva.
O premiado diretor Ang Lee nos trás com As Aventuras de Pi, uma aventura dramática fantástica e impressionante sobre a fé, a vida e principalmente sobre as escolhas do Homem rumo a compreensão durante nossa permanecia neste mundo.
Uma das características que mais chamam a atenção neste longa, são suas montagens. A forma como ele utilizava as sobreposições de imagens, as fusões, as passagens de tempo em elipses inteligentes; não só para compor melhor as imagens, mas como um auxilio a mais na construção da narrativa. Que alias justifica-se pelo enredo todo, ate seu final surpreendente e instigante.
O roteiro é funcional, muito bem escrito que desde o inicio constrói o caráter de seu protagonista Pi. Nos remontando desde sua infância, pela adolescente, medos, receios, aprendizados, amores, escolhas e anseios. O que é eficiente quando o filme entra em seu segundo ato, ajudando ao espectador a entender todas as situações ali enfrentadas e a maneira que ele lida com elas.
Um filme que soa orgânico, mesmo com alguns problemas narrativos que ele enfrenta ao longo da projeção, como por exemplo a narração continua do protagonista. Por ser um historia com muitos elementos que não são perceptíveis apenas através dos atos, o único recurso encontrado pela direção foi colocar a narração quase intrusiva do protagonista em todo o momento, isso aliado a alguns planos em dado momento que surgem com uma aproximação de câmera rápida demais, o que causa um desfoque excessivo nas imagens, como na sequencia inteira do naufrágio, prejudica a narrativa do enredo – neste ponto isolado- principalmente no caso dos planos desfocados e achatados, quando se projeta ele em 3 D que é justamente o uso da profundidade de campo. Um anula o outro.
Ainda assim o 3D é eficaz, tirando esse breve deslize.
Mas tirando isso, o filme – que alias funciona extremamente bem sem ser em 3D, salvo uma ou duas cenas, como a do fundo do mar, e o do salto de uma enorme baleia, onde ele se faz quase que indispensável -, é impecável. Principalmente do ponto de vista estético.
A fotografia é carregada de cores vibrantes e granuladas, há uma textura que chama a atenção em todo o primeiro ato do longa, quando estamos no zoológico. As próprias cenas são belas, repletas de signos e símbolos, em figuras bonitas de se visualizar em tela. O designer e os efeitos visuais também são fantásticos, todas as cenas em alto mar demonstram um cuidado excessivo com as imagens de forma que impressiona. Mas não tanto quanto o excepcional e quase assombrosa construção do Tigre de bengala, um dos protagonistas do longa que atende pelo nome de Richard Park. O efeito usado na construção desse tigre virtual - e no de todos os demais animais que surgem, inclusive algumas moscas de furtas - é de tamanha realidade que não há como distinguir os takes em que se usou um animal real e o que se usou um efeito especial. Isso provem de um trabalho intenso de pesquisa e de uso da tecnologia que usou mais de 15 pessoas apenas para delimitar os mais de 10 milhões de pelos do corpo do animal. Realmente impressiona.
E é nesta relação alias, entre Tigre e Garoto, que surgem as metáforas e mensagens mais bonitas e instigantes do filme. Alias signos de representação não faltam ao longa que consegue imprimir suas metáforas ate mesmo numa ilha paradisíaca mas enganosa que se transforma do dia para anoite e que a distancia se assemelha ao corpo de uma mulher repousando no oceano.
Por fim, As Aventuras de Pi se engrandece e prova que não é apenas mais um filme, ao conseguir propor uma discussão de forma plena e justa: A da fé.
A fé que permeia todo o enredo é mostrada de uma forma libertaria, diversificada. Tudo isso na Figura da busca de Pi por compreensão do mundo através da religião sem contudo se ater a instituições. O que lhe interessa sabiamente é a fé. E desmembrar os mistérios e conhecimento por trás de cada religião que passa por seu caminho. Assim o filme versa justamente pela busca humana em compreender do que é formado os fatos da vida.
Quando um filme consegue conversar diretamente com o espectador, sem que este se sinta deslocado ou atacado por pregações; é ótimo.
Esta – a crença- que esta no sentimento de cada um em obter respostas e "curas" para seus males internos, redenção pessoal, para aquilo que a ciência não pode resolver- e mesmo essa, a ciência, tem espaço no filme e de forma discutível através por exemplo, da crença do pai de Pi nela, ou na constatação da mãe de Pi que diz que em certo momento que "a ciência é importante para o lado exterior do Homem, mas é na religião que se encontra a solução para o lado Interno, aquele que não se vê e só se sente sem poder explicar" - é um filme cuja moral esta naquilo que nós escolhemos acreditar.
Na força da natureza e seus mistérios com relação ao Homem e principalmente no universo todo que reside dentro de nós.
O ato final revela essa proposta de discussão ao deixar para o espectador a escolha de como digerir o filme, da maneira que seu coração ou razão melhor escolherem. Em ambas as escolhas o resultado os levara pro mesmo final, porem a ida ate ele é que é a chave, tal qual a experiência da vida.
As Aventuras de Pi é um mergulho em nossas próprias aventuras, seja como ali, na companhia de um tigre de bengala ou de um amigo de polegares opositores como nós.
Seja no mar ou na terra.
Um belo filme, sensível e em toda sua mistificação; humano.