O cinema atualmente é uma arte sem fronteiras, que mistura diversos pontos de vista e, principalmente, diferentes culturas. “Água Negra” é um típico exemplo disto. O filme, além de ser baseado numa película japonesa do diretor Hideo Nakata (o mesmo que dirigiu “O Chamado 2”), é dirigido pelo brasileiro Walter Salles, foi escrito pelo mexicano Rafael Yglesias, é estrelado por um elenco formado por atores de diversas nacionalidades e foi produzido por norte-americanos.
Apesar disto, “Água Negra” é um filme tipicamente hollywoodiano, o que poderá desapontar os fãs do brasileiro Walter Salles, que fez aqui a sua estréia na direção de um longa produzido por Hollywood. Na realidade, quando assistimos “Água Negra” não reconhecemos nenhum traço de Walter; a única coisa no filme que remete ao diretor é o cuidado com as imagens, que, por sinal, foram belamente fotografadas por outro brasileiro, Affonso Beato, que costuma trabalhar nos filmes do diretor espanhol Pedro Almodóvar.
Em “Água Negra”, acompanhamos a história de Dahlia Williams (Jennifer Connelly), uma mulher que está passando pelo processo de divórcio do marido (Dougray Scott) e por uma difícil batalha pela custódia da única filha Cecilia. Dahlia tenta reiniciar sua vida e se muda com Cecilia para um apartamento na Ilha Roosevelt, que fica perto de Nova York. O apartamento para o qual mãe e filha se mudam tem pouco espaço e logo começa a apresentar uma série de fatos estranhos (vazamentos, goteiras, água poluída).
A partir daí, “Água Negra” vira mais uma daquelas novas versões de filmes de terror japoneses. O medo novamente é representado por uma menina que se ressente da mãe relapsa, por enormes quantidades de água que aparecem por todos os lados e pelo estranho aparecimento de mechas de cabelo na água encanada. Mas, ao contrário do filme japonês (que apela para imagens chocantes e assustadoras), Walter Salles apresenta “Água Negra” como um thriller psicológico ao ligar a história da menina Natasha (que atormenta a vida de Dahlia e Cecilia) com a da própria Dahlia, que, quando pequena, também foi esquecida e abandonada pela mãe alcoólatra.
Por isso, quem vai assistir “Água Negra” pensando que vai morrer de susto irá se decepcionar. Entretanto, quem já conhece a versão japonesa do filme vai gostar da nova interpretação de Walter Salles, pois o diretor fez o impossível: transformou um filme que era muito chato em uma película tolerável e, em alguns momentos, bastante intrigante.