Não era uma novidade para o escritor Elmore Leonard ver os seus livros serem adaptados para a grande tela em filmes como “Jackie Brown”, do diretor Quentin Tarantino. O inverso ocorreu quando “O Nome do Jogo”, de Barry Sonnenfeld, estreou nos cinemas. O sucesso do filme fez com que Leonard se inspirasse a escrever outra história tendo como protagonista o ex-agiota e mafioso Chili Palmer. É justamente a essa trama que iremos assistir em “Be Cool – O Outro Nome do Jogo”, filme no qual Sonnenfeld passa o bastão de diretor para as mãos de F. Gary Gray, de “Uma Saída de Mestre”.
Depois de anos trabalhando como produtor na indústria cinematográfica, Chili Palmer (John Travolta) está desiludido com o seu trabalho. Palmer não agüentou ter que ceder às pressões para fazer a continuação de seu maior sucesso de bilheteria, “Get Lost”. O mafioso precisa de novas idéias e desafios. Em um encontro de negócios que acaba de maneira desastrada com Tommy (James Woods), o dono da gravadora Nothing to Lose (NTL) Records, Palmer é convidado a produzir um filme sobre a vida do executivo e é chamado para conhecer a mais nova promessa da música (e também candidata a estrela do filme sobre a vida de Tommy): a cantora Linda Moon (Christina Milian, uma ex-VJ da MTV norte-americana).
Linda está ligada à Carrosel Records, de Nicky Carr (Harvey Keitel), e é empresariada por Raji (Vince Vaughn, o melhor do filme), um branco que age como negro e vive acompanhado do segurança/motorista gay e aspirante a ator Eliott Wilhelm (The Rock, tentando mostrar, por assim dizer, a sua versatilidade como ator). Ao ver Linda cantar ao lado de duas dançarinas/backing vocal exóticas (o grupo possui o nome de Chicks International), Chili Palmer nota que encontrou uma verdadeira mina de ouro e decide entrar no ramo da música sendo o agente de Linda e comprando assim uma briga com Nicky, Raji, a máfia russa e um bando de rappers (que são retratados de maneira bastante estereotipada dirigindo seus jipes Hummers e portando as suas armas e que são liderados por Sin La Salle, personagem de Cedric The Entertainer, e por Dabu, o estreante André Benjamin, do grupo Outkast). Assim como em “O Nome do Jogo”, Palmer terá uma guia para introduzi-lo nas artimanhas do mundo da música: Edie (Uma Thurman, reeditando a sua parceria com Travolta depois de “Pulp Fiction – Tempo de Violência”), a viúva de Tommy.
“Be Cool – O Outro Nome do Jogo” possui a mesma linguagem ácida e ritmo frenético de “O Nome do Jogo”. O que é interessante de observar nos dois filmes é a piada que Elmore Leonard faz tanto com a indústria do cinema quanto da música. Ao inserir uma personagem (Chili Palmer), cuja maior especialidade é conseguir o que quer por meio da coerção e violência, dentro dos mundos do cinema e da música, Leonard mostra que, na realidade, a própria indústria do entretenimento é uma máfia, na qual se dá bem aquele que é mais esperto.
Sem querer desmerecer o trabalho de Barry Sonnenfeld ou de F. Gary Gray, as histórias contadas por Elmore Leonard fazem parte de um mundo bastante conhecido por outro diretor: Quentin Tarantino. Tanto o é que Sonnenfeld e, especialmente, Gray encheram “O Nome do Jogo” e “Be Cool – O Outro Nome do Jogo” com referências às temáticas recorrentes nas obras de Tarantino. Nos filmes podemos encontrar as múltiplas tramas, o tom irônico e sarcástico, a ação frenética, inúmeras referências à cultura pop e uma trilha sonora impecável. Até mesmo a famosa cena de dança de “Pulp Fiction – Tempo de Violência” se repete na continuação (e com os mesmos John Travolta e Uma Thurman). No entanto, o filme peca por querer ser “cool” igual aos que Tarantino produz. Para chegar a esse status, só com o verdadeiro mesmo na direção e não com o aspirante à sósia (Gray, no caso).