Eu ainda lembro, como se fosse hoje, de tudo aquilo que eu senti quando assisti, pela primeira vez, ao filme “O Mágico de Oz”, do diretor Victor Fleming, que contava a história da jovem Dorothy (Judy Garland), que embarca em uma viagem por um mundo fantástico em busca da volta ao lar. Estas sensações ainda estão vivas na minha mente, pois nunca mais experimentei algo parecido com a magia e simplicidade do filme de Fleming. Todos esses sentimentos vieram à tona novamente quando eu assisti “A Fantástica Fábrica de Chocolate”, do diretor Tim Burton.
“A Fantástica Fábrica de Chocolate”, na verdade, é uma nova versão do filme de mesmo nome estrelado por Gene Wilder; e não poderia ter caído nas mãos de melhor diretor, afinal a marca dos filmes de Tim Burton são a magia, a fantasia, a excentricidade e o lirismo com que ele encara os roteiros que filma. Muitas vezes. Burton parece querer mostrar o irreal, mas o espectador acostumado com seus filmes nunca irá questionar o diretor, pois sabe que estes detalhes fazem parte do modo Tim Burton de se fazer filmes.
“A Fantástica Fábrica de Chocolate” conta a história do excêntrico Willy Wonka (Johnny Depp, em roupas extravagantes e com claras influências de personalidades exóticas como Michael Jackson na composição de sua personagem), o dono da maior fábrica de chocolates do mundo. Depois de ver as suas receitas secretas caírem nas mãos de empresas concorrentes, Wonka se isola na sua fábrica e não recebe ninguém por lá. Depois de quinze anos, Wonka decide fazer uma promoção e coloca cinco bilhetes premiados dentro de cinco barras de chocolates. Os contemplados passarão um dia na fábrica de chocolates na companhia de Willy Wonka e de seus exóticos ajudantes, os duendes Oompa Loompas (todos interpretados pelo mesmo ator, o que nos leva a outra semelhança com “O Mágico de Oz”, filme no qual os atores interpretavam papéis múltiplos); e um deles ganhará um prêmio superespecial.
Os cinco premiados são crianças muito diferentes. O primeiro a achar o bilhete premiado é o gordinho alemão Augustus Gloop, um chocólatra. A segunda é Veruca Salt, uma menina mimada pelos pais e que esperneia para ter tudo o que quiser. A terceira é Violet Beauregarde, uma menina extremamente competitiva e que não larga o mesmo pedaço de chiclete há quase dois meses. O quarto é Mike Teavee, um menino especialista em jogos de videogame e qualquer coisa relacionada às altas tecnologias. O quinto, e último, é Charlie Bucket (o então menino-prodígio Freddie Highmore, que trabalhou com Depp no filme “Em Busca da Terra do Nunca”), um menino simples, de família humilde e que come chocolates somente uma vez por ano, no dia de seu aniversário.
Todas as crianças estão muito interessadas na fábrica de chocolates de Willy Wonka. Quando as portas da fábrica se abrem, parece que estamos vendo novamente o momento em que Dorothy (em “O Mágico de Oz”) abre a porta do seu quarto depois do vendaval e se depara com um novo mundo, cheio de cores berrantes e que mais parece ter saído de um sonho. Assim também é a fábrica de Willy Wonka, onde as águas dos rios são feitas de chocolate derretido e tudo que forma o ambiente é comestível. Mais surpresas ainda estão por vir e as crianças (e nós, os espectadores) notarão que o passeio, na realidade, é um grande teste, uma experiência de vida.
São poucos os filmes que conservam intactos em si uma magia e um significado especial. “O Mágico de Oz” é um deles. “A Fantástica Fábrica de Chocolate” também é um deles. Tim Burton fez um filme incrível, simples e que será atemporal, pois fala tanto para as crianças como para os adultos. Se Dorothy nos lembra que “não existe lugar como a nossa casa”, Willy Wonka nos mostra que, com a família, a vida é muito mais doce. Essa mensagem é um derivativo do que Dorothy nos falou, e lições como essa, nós nunca iremos esquecer. O mesmo vale para os dois filmes.