Primeiramente, é preciso entender o porquê do título Elefante . O nome faz referência a uma parábola budista na qual vários cegos tocam um elefante, e cada um o descreve de acordo com a parte que tocou: a pata, a cauda, a orelha ou a romba. Mas nenhum é capaz de imaginar o animal em sua totalidade. A nós, é mostrada a "visão" de todos os cegos (uma de cada vez) da parábola, sendo assim, possível tirar nossas próprias conclusões e entender melhor o elefante. Pois, quando se tem a visão de um só dos lados da história, não é possível compreender o que está acontecendo nem o porquê. Também outra interpretação para este título é a história do elefante instalado na sala de estar que só é notado quando o estrago chega a proporções maiores do que o suportável. Mas o próprio diretor disse que o seu filme está mais para a primeira interpretação do que a para a segunda, mas não que esta última esteja errada. O filme tem um estilo e uma proposta bem diferentes do normal e muito interessantes. Elefante é composto por diversos planos seqüência, dentro dos quais é contada a mesma história, mas na visão daquele que a câmera acompanha. A história começa acompanhando John, que tem um pai alcoólatra e sofre por isso. E logo depois, Eli, que sai pelas ruas a tirar fotos retratando a sua visão do mundo. A câmera os acompanha até a escola. E é lá onde se passa quase toda a história. A partir daí, a câmera passa a acompanhar as trajetórias de vários estudantes, nas quais é possível ver seus problemas, como são e o que sentem. Nate e Carrie, os namorados que causam inveja aos outros alunos; as amigas Brittany, Jordan e Nicole, patricinhas, e Michele, a nerd, que vive em isolamento e sendo humilhada, o que torna o filme um tanto estereotipado. Elefante não tem linearilidade de tempo alguma. O filme, na maioria das vezes, vai até certo ponto do enredo e volta para contar a trajetória de outro personagem, que passa por um já mostrado, para deixar bem clara a proposta do filme. Tudo está acontecendo normalmente na escola de Columbine, no interior dos Estados Unidos, e todos vivem suas vidas sem imaginar o que está prestes acontecer. Alex é um jovem que sofre com as implicâncias de Carrie e decide se vingar no mesmo dia. Ele vai pra casa e elabora um plano junto com seu amigo. Os dois compram uma metralhadora pelo correio que, somada aos pertences bélicos dos dois, se torna um belo arsenal de guerra. Os dois, então, se dirigem para a escola vestidos como se estivessem indo para o campo de batalha. Alex e seu amigo entram na escola armados até os dentes, e o único que percebe a catástrofe que está para ocorrer é John. Dentro da escola, os dois amigos, com toda a frieza do mundo, matam todos que vêem pela frente, assim como no vídeo game que jogam em casa. Os recursos estilísticos usados pelo diretor são bem evidentes. Longos planos seqüência simulando uma visão de vídeo game, em que a câmera acompanha a trajetória do indivíduo pela escola. Dificilmente é possível ver alguma coisa além do personagem que está sendo seguido pela câmera, pois o resto do quadro fica todo desfocado, o que é um pouco desconfortável para os olhos. A edição de som ficou mal feita, pois é claramente possível sentir a diferença brusca de som quando muda de um microfone para o outro. Também é possível constatar uma influência do Dogma no filme, já que a direção de fotografia é um pouco despreocupada com a iluminação. Elephant não tenta mostrar razões globais para justificar os acontecimentos ocorridos em Columbine, apenas conta uma história tentando mostrar todos os lados da trama. Para muitos autores de críticas, não ficou nenhum pouco claro o motivo que os leva a fazer tal coisa. Mas pra mim, ficou bem claro. Alex, está cansado de ser rejeitado e maltratado pelos colegas, ele nada pôde fazer quanto a isso, a raiva foi se acumulando e, com a facilidade de se conseguir uma arma, ele, que já matou tantas pessoas virtualmente, resolve experimentar algo mais próximo da realidade.