Alan Hakman, personagem interpretado por Robin Williams em Violação de Privacidade, filme do diretor Omar Naïm, se assemelha bastante à Sy Parrish, personagem que Williams interpretou de forma soberba no excelente Retratos de uma Obsessão, de Mark Romanek. Assim como Parrish – que trabalhava como revelador em uma loja de filmes fotográficos e se tornava obcecado por uma das famílias que ele atendia -, Hakman tem o seu lado voyeur e se deixa invadir pelo trabalho como editor da Eye Tech, uma empresa que implanta microchips nos cérebros das pessoas. Esses microchips têm a capacidade de armazenar a vida de um ser por completo. Hakman é chamado quando alguém que possui o dispositivo morre e, depois de conversas com a família do morto, monta um vídeo com os momentos mais marcantes da vida do falecido – ou com aqueles que a família prefere guardar.
As rememórias (maneira pela qual os vídeos produzidos pelos editores da Eye Tech são chamados) causam muita polêmica, pois como alguém que não conheceu outra pessoa pode se dar ao luxo de dizer àqueles que efetivamente a conheceram a forma como ela deve ser lembrada? Hakman não encara seu trabalho sob esse prisma, nem também se sente o homem mais poderoso do mundo por causa da função que desempenha. Na verdade, Hakman se tornou um editor para se redimir de um erro cometido na infância (ele brincava com um amigo, quando o pressionou a passar por uma passagem perigosa, que acabou levando o amigo à morte). Ao editar as rememórias dos mortos e, conseqüentemente, omitir fatos obscuros de suas biografias; Hakman acredita estar absolvendo os mortos de seus pecados e, principalmente, atenuando o sentimento de culpa pelo que fez ao amigo.
Quando o advogado da Eye Tech, o todo-poderoso Charles Bannister falece e o microchip dele chega às mãos de Hakman para a edição, Alan se sente como em um trabalho qualquer. Rapidamente esse sentimento irá se dissipar, pois muitos querem colocar as mãos nos arquivos de Bannister, especialmente Fletcher (Jim Caviezel), um ex-editor que lidera o grupo de resistência contra as rememórias. No entanto, o próprio Hakman passará a enxergar o trabalho de outra forma quando, nas memórias de Bannister, ele encontra um homem relacionado ao acontecimento trágico ocorrido na sua infância. Nas cenas que se seguem à descoberta, Hakman será obrigado, então, a quebrar as preciosas regras dos editores de rememórias (não vender ou dar algum microchip contendo à memória de alguém, não instalar em si mesmo um microchip e não apresentar a memória de um ser como sendo a de outro).
Violação de Privacidade é um filme que começa bem, equilibrando as explicações sobre a personalidade de Hakman e o mundo no qual ele está inserido com as discussões sobre o tipo de trabalho que o editor faz. Porém, quando a trama de Violação de Privacidade começa a dar destaque à descoberta de Hakman sobre o seu passado, o filme entra em uma série de clichês até chegar ao final patético que tenta transformar Hakman em um mártir para a causa dos outros. Talvez, se o diretor e roteirista Omar Naïm fosse um pouco mais experiente, o resultado fosse diferente.