"Má educação", de Pedro Almodóvar, pode ser encontrado na videolocadora de sua preferência. O enfant terrible do cinema espanhol volta a chocar e a visitar a alma feminina. Mesmo que isso se dê através de personagens masculinos. Ao que parece há um tom autobiográfico, o que fica quase explícito através do personagem Enrique Goded (Fele Martinez), um jovem diretor de cinema que vive uma crise criativa. Aliás, a escolha do nome Goded deve ser uma homenagem a Godard, o famoso diretor francês. Há uma mostra de "film noir", que o sr. Berenguer (Lluís Homar) e Angel (Gael Garcia Bernal), vão assistir numa certa altura do filme. As referências aos franceses não são tão poucas assim. Voltando ao enredo, o diretor Goded recebe a visita inesperada de um antigo colega de escola jesuíta, Ignacio, que agora prefere ser chamado de Angel. Ele é ator, protagonizou grandes personagens no teatro, com o grupo Besouro, e, o que é mais importante, trouxe uma espécie de roteiro cinematográfico chamado de "A visita", que retrata os anos de infância e adolescência. A princípio Goded não se mostrou muito interessado, porém, ao ler "A visita" relembra o seu passado, além de ver todo o potencial cinematográfico que o roteiro oferece. Dois alunos de um colégio jesuíta, Goded e Ignacio, se apaixonam na época da escola. O padre Manolo (Daniel Gimenez Cacho) decide pela expulsão de Ignacio da escola, pois ele nutria uma paixão por Ignacio. Este era um garoto que se sobressaia em relação aos demais por cantar como um anjo. Anos mais tarde Ignacio se torna um travesti viciado em drogas injetáveis, que vê como a única solução para os seus problemas financeiros chantagear os padres da sua antiga escola. Eis que o chantageado, um ex-padre, agora casado, "homem honrado e de família", é o sr. Berenguer, que acaba se apaixonando pelo irmão de Ignacio. Pelo número de vezes que eu escrevi a palavra paixão, é fácil perceber que este é o tema central do filme. Não importa se ela é homossexual, se é a atração pedófila de padres por crianças, se é a paixão de um cineasta pela sua arte. É essa a força motriz do cinema de Pedro Almodóvar, ou seria Enrique Goded? Está longe de ser a mais seminal obra do diretor (Fale come ela; A flor do meu segredo; Tudo sobre minha mãe são filmes muito superiores a este "Má educação", que retrata a sua geração, fortemente reprimida pelos padres educadores. As cenas de sexo entre os protagonistas devem gerar um certo grau de desconforto para muita gente. A atuação de Gael Garcia Bernal é espetacular, principalmente quando vivencia o travesti Zahara. Não podemos esquecer a atuação de Lluís Homar. Não confundam querer chocar, que não é o objetivo de Almodóvar atualmente, com mostrar as origens de nossas paixões, este sim seu alvo final.