As primeiras cenas de Tentação, filme do diretor John Curran, são confusas para a platéia. Vemos quatro pessoas – Jack (Mark Ruffalo, também produtor executivo do filme), Terry (Laura Dern, em uma atuação maravilhosa), Hank (o ótimo ator Peter Krause, da série “Six Feet Under”) e Edith (Naomi Watts, que também produziu o filme) – no que aparenta ser uma reunião festiva. Seriam eles somente amigos ou seriam eles dois casais? – nós não sabemos. Mas os olhares de flerte, os toques e a intimidade que é predominante na sala onde os quatro estão reunidos indicam que eles possuem uma relação muito forte uns com os outros.
Aos poucos, as peças vão se encaixando. Jack e Hank são melhores amigos, companheiros de corrida e compartilham a mesma profissão (ambos são professores). O mesmo laço de amizade e companheirismo une Terry e Edith, as esposas de Jack e Hank, respectivamente. Mas a forte amizade não indica que os quatro são sinceros uns com os outros. Jack ama Edith, com quem tem um caso. Edith retribui o amor de Jack. Hank ignora a esposa, vive preso a um livro que ele escreveu e que nunca será publicado e ainda arruma tempo para paquerar a esposa do amigo Jack. E Terry – de longe a personagem mais real do filme -, ciente da crise que atravessa no seu casamento, se afunda na bebida enquanto tenta reerguer sua relação com o marido.
É o relacionamento extraconjugal que acontece entre Jack e Edith que dá base ao filme Tentação. A partir do caso amoroso, o roteirista Larry Gross (que baseou sua história em dois contos do escritor Andre Dubus) trabalha dois pontos de vista: como o fraco e inundado pelo sentimento de culpa Jack leva o seu relacionamento com a esposa Terry, com o amigo Hank e com os dois filhos; e como a realista Edith encara o marido – também - adúltero e insensível e a melhor amiga que a procura para desabafar sobre seu casamento sem suspeitar que a própria Edith tem a sua parcela de culpa na situação.
É o sentimento de culpa, de não-aceitação, de não-adequação, de raiva, de impotência, de crueldade, de constrangimento, de mentira, de honestidade, de fingimento, entre outros que Larry Gross e o diretor John Curran tão bem transportaram para a grande tela em Tentação. O filme é deveras uma visão bastante pessimista do casamento. Não existe felicidade ou plenitude para Jack e Terry ou Hank e Edith; e sim a coragem necessária – ou a falta dela – para fazer o que tem de ser feito. Tentação seria um filme totalmente triste se não falasse a mais pura verdade.