Em 2002, quando foi lançado o longa Resident Evil — Hóspede Maldito, era visível que a produção carregava vários aspectos negativos nas costas. Contudo, percebia-se que o que atrapalhava mais era o diretor Paul W. S. Anderson, com uma direção confusa e rápida, que apesar de se salvar em alguns pontos, acabava tornando o filme a catástrofe que é. Mesmo assim, Resident Evil — Hóspede Maldito rendeu uma boa bilheteria e conseguiu se pagar. Então, dois anos após o seu lançamento, veio a tão esperada — ou não — continuação do filme baseado nos jogos de sucesso. E apesar de ser um filme bastante esquecível, Resident Evil: Apocalipse, de 2004, dirigido agora por Alexander Witt — mas ainda roteirizado por Paul Anderson — consegue ser bastante superior em relação ao seu antecessor.
O que é preciso para fazer um bom filme baseado num videogame? Roteiro bastante elaborado, uma direção mirabolante, elenco de ponta e efeitos especiais impecáveis. Contudo, um filme baseado num jogo de console — nesse caso aqui Resident Evil —, é nada mais do que um blockbuster; e sendo assim o filme tem como seu objetivo lucrar e para conseguir tal lucro, tem que entreter o seu público, seu espectador. E apesar de não parecer, Resident Evil — Apocalipse entretém, mas vamos aos poucos.
Seguindo os acontecimentos de Hóspede Maldito, a cidade de Raccon City foi infectada por um vírus mortal e as Corporações Umbrella, responsável por tal, está tentando aos poucos evacuar os civis da cidade; contudo, tudo muda quando a Corporação sela a barreira que separa Raccon City das demais cidades deixando os habitantes confinados na cidade. Enquanto isso, dois grupo de sobreviventes se formam: de um lado temos o formado pela jornalista Terri Morales (Sandrine Holt), os policiais Jill Valentine (Sienna Guillory) e Peyton Wells (Razaaq Adoti), LJ (Mike Epps) e a desnorteada Alice (Milla Jovovih) ainda confusa e tentando descobrir o que a Umbrella fez consigo. E do outro lado temos os soldados das Corporações Umbrella: Carlos Oliveira (Oded Fehr) e Major Cain (Thomas Kretschmann), deixados para trás pela Corporação. O grupo se junta quando o Dr. Ashford (Jared Harris), confinado numa das instalações da Umbrella, os contata e os promete tirar da cidade se caso o grupo lhe trouxer sua filha Angie Ashford (Sophie Vavasseur), que o cientista ainda acredita estar viva.
A sequência de Hóspede Maldito chega nas mãos de um novo diretor: Alexander Witt. O cineasta que havia sido diretor de segunda unidade em Falcão Negro em Perigo (2001) se aventura pela primeira vez no comando total de um longa com a franquia de zumbis, e apesar de errar em certos aspectos já esperados, Witt consegue ter uma direção cem vezes superior a de Anderson.
E falando no diretor da primeira produção, mesmo que afastado do comando geral de Apocalipse, Anderson roteiriza e produz a sequência. E enquanto Hóspede Maldito continha uma direção péssima e um roteiro até certo ponto bom, Resident Evil: Apocalipse sofre o reverso: a direção de Witt é boa e o roteiro de Paul Anderson é bastante fraco. Não oferecendo nada de novo — a não ser algumas informações acerca do vírus T e a protagonista Alice —, o roteiro dá mais atenção para as cenas de ação e deixa — bastante — em segundo plano uma boa história que poderia sustentar o filme.
Contudo, como dito, é um blockbuster, um filme de zumbis, então não é necessário um roteiro elaborado. Sendo assim, o roteiro fraco de Anderson consegue se salvar de péssimo ao cumprir com o prometido ao lado da direção de Witt que não traz um filme entediante e metódico: Apocalipse está recheado de cenas de ação alucinadas e um ritmo frenético.
O desenvolvimento dos personagens, assim como em Hóspede Maldito, continua de mal a pior. Os personagens novos apresentados na sequência até que conseguem se achar no longa e são bem apresentados, mas Jill Valentine, personagem trazida dos games — para alegria dos fãs (ou não) —, é "estragada": não por ser rebaixada a coadjuvante enquanto no game é protagonista, mas sim por parecer ter sido tirada literalmente do video-game. Indo para a sétima arte, a personagem parece deslocada enquanto ao restante do filme, possui diálogos mesquinhos, a tentativa de ser bad-ass é bastante forçada e o diretor tenta enfiar a personagem goela abaixo e a atuação de Sienna Guillory, embora não péssima, não salva a personagem.
Milla Jovovich, que protagoniza Alice e havia sido uma das únicas surpresas do filme anterior, mantem o mesmo desempenho porém também cai na atmosfera "video-gameana". A personagem tem cenas a lá impossíveis e nada convincentes. Apesar disso, a personagem de Jovovich — por ter já participado de dois longas — contem certo desenvolvimento e se encaixa no restante da produção.
O ponto alto dessa vez vai — pode acreditar — para o "vilão" Nêmesis: muito diferente do monstro de Hóspede Maldito, feito com uma péssima computação gráfica, os produtores resolveram fazer o monstro dessa vez com maquiagem prática. E apesar de tudo o visual de Nêmesis é medonho e a maquiagem prática não atrapalha nenhum aspecto que compõe a aparência do personagem.
O figurino do filme e seu design superam em alguns aspectos o anterior. A fotografia está ótima, o cenário, que é a cidade destruída e também supera as instalações enclausuradas da Colmeia, está bastante bom, e o figurino do filme, que se focaliza nas personagens de Jovovich e Guillory, apesar de impressionar, estão razoáveis. A roupagem de ambas as personagens, Jill e Alice, embora pareçam ser a primeira vista excelentes são mais uma tentativa frustrada do diretor tentar agradar aos fãs dos jogos. Contudo, o figurino não estraga nem de longe a experiência.
Como já dito, Witt conta com um melhor ritmo e sendo assim consegue prender o expectador na cadeira — mesmo que no final este tenha um sentimento de que acabou de ver um filme nada espetacular. E com esse bom ritmo as cenas de suspense estão melhores e dão mais credibilidade a atmosfera de terror que os produtores vinham tentando atingir desde Hóspede Maldito. E superando mais uma vez seu antecessor, Apocalipse conta com uma trilha sonora melhor. Embora nada surpreendente, Witt continua com a trilha a la rock n roll mas dessa vez um pouco mais contundida, não tão gritante e dando mais espaço para uma instrumental.
Então é isso: Resident Evil — Apocalipse não é espetacular muito menos surpreendente, mas é, apesar de tudo, bom. Não é um filme imperdível, mas sim uma diversão para assistir em casa ao fim da tarde. Com uma melhora visível quanto ao primeiro longa, quem sabe isso signifique que nos próximos filmes a franquia venha a melhorar — como é bom viver de esperanças!
Nota: 7,1/10