Inicialmente uma breve explicação sobre a geração do diretor Oliver Stone, partindo de Roger William Corman que iniciou-se em Hollywood, como produtor em 1953, e como cineasta em 1955, com filmes baratos (baixo custo) e rápidos (realizados em pouco tempo), os quais hoje chamaríamos de classe B. Um exemplo clássico é O corvo, ou então A pequena loja de horrores. Foi o responsável pela grande retomada e divulgação dos contos do escritor Edgar Allan Poe e pela ascensão meteórica de nomes como Cristopher Lee, Vincent Price e Boris Karloff. Foi Corman o primeiro a reconhecer o talento e dar oportunidades a John Landis, Francis Ford Coppola, Martin Scorcese, James Cameron, Tim Burton, Ron Howard, Joe Dante, Peter Bogdanovich e Jonathan Demme.
Devido à grande liberdade que proporcionava aos seus assistentes, deu chance à expressão de tendências individuais, e bastante heterogêneas entre si, como os cineastas nomeados acima e, na sua sucessão, nomes como Oliver Stone (Platoon, Apocalipse Now, Alexandre, etc) e Steven Spielberg (Amistad, A cor púrpura, etc), os quais, por sua vez, são responsáveis pela geração de cineastas como Ang Lee (Brokeback Mountain).
Quando temos acesso a este panorama mais amplo, temos também clareza da teia de relações que se estabelece entre todos estes cineastas e vislumbramos o nó que os une: a filiação a Roger Corman.
Em entrevistas, nos anos 80, Francis Ford Coppola afirmou que aprendera com Roger Corman que deve haver alguma exposição do corpo humano, quer seja um colo, um braço, uma perna, com uma certa constância, de tempos em tempos durante a ação, para prender a atenção do espectador. Estas características sensualistas, presentes até mesmo em filmes com altas doses de ação e carnificina, será um diferencial da sua produção.
Encontramos esta mesma característica, de forma visível, em Oliver Stone e Ang Lee. De tempos em tempos um torso, coxas, glúteos, que se insinuam sob as roupas ou se expõe para além das mesmas, mesmo em violentas cenas de batalha (Alexandre).
Alexandre consegue ser extremamente sensível, apesar de Stone ter uma predileção mórbida pelas cenas de carnificina e as fazer imensas, intermináveis... A morte, ligada ao sangue, é vista e descrita nas suas mínimas nuances, a violência é uma metáfora. Interessante o fato da morte de Alexandre, que é o personagem principal do filme, ser tão rápida e virtualmente quase indolor. Acredito que isto se deva ao fato de que, para efeito de coerência estética e unidade estilística, a sua morte real já ter acontecido minutos antes, quando ele é carregado inerte, sobre o escudo, após uma batalha sangrenta e rumorosa, que conta inclusive com a presença de elefantes, na Índia.
Uma outra característica herdada de Corman é a banalidade, o caráter prosaico das personagens, o qual faz com que nos identifiquemos, criemos um vínculo afetivo, de empatia, em relação às mesmas. Alexandre e Efestion são protagonistas que nada têm de glamourosos. Eles estão sempre cheios de machucados e cicatrizes em decorrência de sua participação nas batalhas - eles brigam, têm crises de ciúmes... Alexandre se casa para garantir a sucessão dinástica e, na noite em que ele irá manter relação sexual com a esposa, Efestion lhe dá de presente um antigo anel egípcio: é a sua aliança, que ele só deixa cair do dedo no momento em que seu espírito se desprende do corpo, sendo levado pela águia.
Filme subestimado por alguns e injustiçado por outros (exatamente por expor sem pudores a homoafetividade, que era uma característica marcante na civilização greco-romana) certamente será tido na conta dos clássicos.