O cinema está repleto de histórias de superação e de relatos de pessoas que venceram barreiras em busca de um objetivo. O filme francês A Voz do Coração, do diretor Christophe Barratier, reúne dois grandes clichês do cinema: o homem que repensa a sua vida diante da morte de uma pessoa querida e o professor que disciplina alunos inicialmente rebeldes, mostrando-os uma nova oportunidade de vida.
Em outras palavras, podemos definir A Voz do Coração como um encontro entre Cinema Paradiso, filme do diretor italiano Giuseppe Tornatore, e Ao Mestre Com Carinho, filme estrelado por Sidney Poitier. O filme começa com Pierre Morhange (interpretado, curiosamente, pelo mesmo ator que fez o Totó adulto de Cinema Paradiso), um maestro aclamado no mundo da música. Morhange se prepara para mais um concerto quando recebe a notícia do falecimento de sua mãe, Violette. Morhange retorna para a sua cidade natal e lá encontra Pepinot, um amigo que trará lembranças de sua infância e, principalmente, do homem que lhe revelou – e lapidou – o seu talento musical.
Morhange e Pepinot eram dois dos garotos que moravam no internato “Fundo do Poço”, instituição que abrigava meninos problemáticos. O local era, literalmente, um fundo do poço e um inferno, no qual os meninos eram tratados com muita rigidez (vide o lema “Ação, Reação!”) e pouco carinho. Ou seja, no lugar de “reformar” o caráter, a instituição só fazia aumentar a revolta dos garotos. Faltava no internato alguém com sensibilidade, alguém que fosse leniente (e não conivente) e cúmplice dos garotos. Esse alguém era Clarent Mathieu, o novo professor e inspetor da instituição.
Mathieu fica inicialmente chocado com a maneira como a disciplina é imposta aos garotos. Ele fica ainda mais abismado ao observar a complacência com que a equipe de professores trata o diretor do internato (que causava medo tanto nos meninos, quanto em Mathieu). Ele decide ir na contramão dos fatos e mostra que pode ser amigo dos seus alunos e, mesmo assim, exigir respeito deles. Entretanto, a disciplina continuava um problema, e é num daqueles momentos únicos que ele enxerga a solução. Mathieu é um músico frustrado e, ao ver os meninos cantarem harmoniosamente músicas de deboche, resolve montar um coral. É aí que se tem início ao desfile de clichês que passam pela grande tela na hora final de A Voz do Coração.
Indicado a dois Oscar 2005 (nas categorias de Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Canção Original, pela bela Vois sur ton chemin), A Voz do Coração é um daqueles filmes que é previsível (a platéia antecipa cada cena ou reviravolta); mas, mesmo assim, não perde o efeito e emociona, revolta e nos faz rir. Este é um exemplo de fórmula do cinema que nunca fica velha e que nunca cansará de ser visitada – e revisitada.