Apesar da tradução para o nome do filme em português ser “Adorável Julia”, a atriz de teatro Julia Lambert (Annette Bening) não tem nada de adorável. Julia é uma diva na maior acepção da palavra: gosta de ser mimada e trata a todos de maneira péssima. Mesmo assim, a atriz é aclamada pela crítica e admirada pelo público, que a trata como uma verdadeira representante da finesse do teatro.
“Adorável Julia”, um filme do diretor István Szábo e do roteirista Ronald Harwood (de “O Pianista”), se passa no ano de 1936, quando, apesar da já existência do sistema clássico de produção de cinema em Hollywood, o teatro ainda era uma arte prestigiada e suas atrizes eram as grandes superestrelas. Para se ter uma idéia, a personagem título do filme tinha o seu próprio teatro e fazia as peças que queria, uma liberdade que pode ser invejada por muitas atrizes da atualidade.
O filme retrata um determinado período de crise na vida de Julia. Com mais uma peça de teatro bem-sucedida e um casamento sólido (com o produtor Michael, interpretado por Jeremy Irons), Julia se vê em uma encruzilhada: o que mais ela pode conquistar?. Para a atriz são sugeridas diversas opções, como tirar férias e viajar, mas Julia segue o contrário e recupera a vitalidade tendo um caso com o jovem Tom, o que atesta para a atriz que ela ainda tem o poder de fascinar e de causar desejo nos homens.
No entanto, quando Tom a troca pela aspirante a atriz Avice Crichton, a quem Julia dará um papel em sua nova peça, a diva teatral enfrenta uma outra crise: a da atriz jovem e bela tomando o lugar da atriz mais velha. Mas Julia não está disposta a ceder seu lugar tão facilmente e provará para Avice que ela é a verdadeira dona dos palcos londrinos.
Entretanto, a revelação mais importante que nos é feita durante “Adorável Julia” – através da personagem de Sir Michael Gambon – é a de que a realidade na qual Julia vive é a do teatro; a vida real, como nós a conhecemos, para a atriz, é uma farsa. Ou seja, Julia não sabe aonde o palco termina e a vida começa; ela atua a maior parte do tempo a ponto de seu próprio filho Roger dizer para ela que acredita que nunca a viu fora de uma personagem.
“Adorável Julia” se apóia basicamente na excelente performance de Annette Bening, que foi merecidamente indicada ao Oscar 2005 de Melhor Atriz e está em quase todas as cenas do filme. Também não poderíamos deixar de citar o excelente trabalho de István Szábo e sua equipe de direção de arte, que recriaram com perfeição o clima da época. “Adorável Julia” certamente será um daqueles filmes atemporais e que nunca perderão os seus significados, afinal as Julias estão presentes aos montes não são na arte, mas, principalmente, na vida real.