SHOW DA VIDA?
por Roberto CunhaReza a lenda que o público não costuma gostar muito de musicais e, por conta disso, a maioria desafina nas bilheterias. Burlesque chega nos cinemas, apresentando como credenciais a reunião de Cher, uma veterana dos palcos e da película, com uma cantora pop da atualidade, Christina Aguilera, estreando como atriz e no papel principal. Será que dá samba?
Na história, Ali (Aguilera) é uma típica moradora do interior que largou tudo em busca de um sonho na cidade grande. Em Los Angeles, encontra uma pequena boate onde são realizados shows de dança sem cantoras de verdade, se encanta pelo local e, atirada que só ela, consegue trabalho como garçonete num levantar de bandeja e no estalar de dedos do barman Jack (Cam Gigandet), que vira amigo de primeira hora. Só que a moça quer mais e não vai desistir enquanto não convencer Tess (Cher), a dona do pedaço, de que como cantora e dançarina poderá mudar de vida. Ou seja, é mais uma daquelas histórias de vitória, só que menos pesada do que o habitual e sem pretensão de ser dramalhão ou obra prima do gênero. O roteiro tem pitch acelerado, fazendo tudo ficar fácil demais, como se fosse a coisa mais simples do mundo virar um sucesso porque soltou o vozeirão à capela na terra do playback. E para tornar ainda mais inverossímil, a moça canta - a maioria das vezes - sem microfone. Haja pulmão.
De qualquer forma, a trama tem os elementos que fazem boa parte do público se identificar, como a realização de um sonho, clima de romance com um cara bonitão, um blábláblá de jovem órfã aqui e uma coroa tipo mãezona ali. Sem contar uma vilã acolá, conselhos morais "valiosos" como aprender em quem confiar e, claro, aquele humorzinho básico de sempre. A ideia do longa nasceu da cabeça do ator, produtor e roteirista Steven Antin, que aqui estreia como diretor e fez um trabalho regular. Mas a sequência em que Ali sai ensaiando no meio da rua é o auge da bobeira, entrando para a lista da série "o que é isso?!". No elenco cheio de beldades femininas, como Kristen Bell, e masculinas, como Eric Dane e o próprio Gigandet, é o careca Stanley Tucci que se sai bem, enquanto Aguilera, como atriz, ainda é uma boa cantora.
Com duas músicas cantadas pela “botocada” Cher, como a boa (e premiada) "You Haven't Seen the Last of Me", e um montão delas por Aguilera, a curiosidade fica por conta da citação da cantora de blues e jazz Etta James em um diálogo e para a versão de sua “Tough Lover” na voz da estrela pop. Para a turma chegada numa trilha "mais normal", rola uma brechinha para Donna Summer ("Hot Stuff"), Boston ("More Than a Feeling") e Alphaville, com o sucesso "Forever Young" (piadinha involuntária com Cher?). Em resumo, Burlesque tem muita luz, boas coreografias e uma edição pra lá de eficiente, mas para ser fantástico não basta ser o show da vida, tem que tocar mais ... no coração.