O famoso "Quer militar? Milita direito porra" cinematografado por um negro no final dos anos 80, com muito estilo, cuidado e não poderia soar mais atual. Mesmo retratando o período crítico do apartheid, ainda é possível observar ecos do preconceito velado e escancarado que está enraizado na sociedade. Sentimos a tensão que há entre os personagens
Impressionante como o roteiro passa a sua mensagem com precisão. Seria muito fácil expor essa ideia de fazer a coisa certa didaticamente e ainda correria o risco de se tornar "palestrinha" e nao causar nenhum impacto. Lee foi esperto e decidiu mostrar as coisas na prática, com muita cautela, entretanto, sempre contundente. Ele começa explorando o carisma de seus personagens e vai adicionando as pitadas de controversa aos poucos, para que, quando as coisas finalmente tomam o rumo do caos, o espectador se recorde de que é de seus brothers and sisters que ele está falando. Há muito ódio pela opressão e racismo na comunidade negra, um impulso que, basta uma injustiça acontecer, toda a carga de raiva seja liberada. Preocupado com os rumos que essa energia pode tomar, ele dá esse aviso: Always do the right thing, pois ao contrário, as consequências podem ser fatais e o impacto quase nulo, gerando apenas ódio.
Não é a toa que esse roteiro foi indicado ao melhor prêmio da academia, mas há muito o que se louvar em sua direção. Começando pelo tom, as gags de comédia são muito bem vindas e fazem todo sentido para explorar o cotidiano. A graduação para um tom mais tenso e atico é bem suave, e quando somos exposto à catarse, estamos preparados para digerir aquilo, mesmo sendo um pouco desconfortável.
Sua câmera está impregnada de estilo. A montagem, os cortes, os takes, mise-en-scene, angulos, movimento: tudo trabalha com originalidade e beleza, fortalecendo o estilo do então jovem diretor que iniciava sua carreira.
Além de ser um patrimônio cultural por sua estética e relevância social, Do the right thing deve ser preservado e estudado como estratégia de guerrilha.