Dr. Jivago é um belíssimo filme dirigido por David Lean; terno, cativante e ao mesmo tempo uma lição de história, a qual ensina que as revoluções fogem ao controle, adquirindo uma dinâmica própria, autoritária, invasiva, rancorosa e até mesmo homicida. Talvez o verdadeiro motivo das revoluções seja o expurgo, de caráter subjetivo, com a intenção de expiar recalques e desferir vinganças contra os “privilegiados”. Assim é que Yuri Jivago (Omar Sharif), um homem apaixonado pela vida segue sua trajetória hedonista, rodeado de pessoas apaixonadas por sua vivacidade como Tonya (Geraldine Chaplin) e Larissa Antipova (Julie Christie), retribuindo com amor e proporcionando felicidade a essas mulheres. Ele é o outro tipo de homem, adaptável, esperto, mas não no sentido da sobrevivência ao qual se refere Komarovsky, (Rod Steiger), que é personificado por ele próprio, em oposição ao homem “idealista, que parece ser admirado mas que no fundo é desprezado”, caso de Pasha / Strelnikov (Tom Courtenay). A narrativa é costurada pelo meio-irmão de Jivago, Yevgraf (Alec Guiness), nosso eterno mestre jedi Bem Kenobi. O filme ensina que por detrás dos ideais nobres das antigas revoluções idealistas francesa, que preconizava igualdade, liberdade e fraternidade, e russa, o socialismo, houve um verdadeiro massacre que não poupou nem mesmo os mentores da própria revolução, mas nas revoluções silenciosas da contemporaneidade, desenvolvidas por pessoas dissimuladas dentro dos virtuosos e desprezados regimes democráticos, esse discurso só se presta à substituição de uma elite por outra, com menos virtudes e qualidades.