O excelente diretor inglês Stephen Frears, que começou a fazer sucesso na década de 80 com os filmes "Minha adorável lavanderia", "O amor não tem sexo", e, em Hollywood com "Ligações perigosas", volta a cutucar a chaga que é a situação dos imigrantes em Londres. O médico nigeriano Okwe (Chiwetel Ejiofor, um excelente ator) que teve de fugir do seu país de origem por razões políticas, é motorista de taxi durante o dia e trabalha num hotel à noite para sobreviver na capital inglesa. Okwe quebra os galhos dos seus colegas de profissão, também vivendo em situação ilegal na terra da rainha Elizabeth, examinando-os earrumando antibióticos para curar suas gonorréias. Okwe faz uso de ervas medicinais para não dormir. O fato que mais chama atenção em seu personagem é o seu senso ético inquebrantável. Ele divide um quarto com uma emigrante turca, Senay (Andrey Tautou, a mesma de Amélie Poulain), por quem é apaixonado. Inicialmente é ela quem resiste à possibilidade dos dois terem um relacionamento amoroso. Com o desenrolar da trama é Okwe que rejeita a idéia de namorar Senay. Um destino desgraçado já é o suficiente. Até esta altura tudo leva a pensarmos que estamos diante dos filmes do cineasta britânico Ken Loach. As coisas tomam um rumo diferente quando Okwe descobre um coração humana numa privada do hotel em que trabalha e, em última análise, acaba por se deparar com uma rede de tráfico de rins ($ 10.000 por órgão), chefiada pelo dono do local, Sneaky (Sergi Lópes). Inúmeros imigrantes ilegais não tinham outra saída a não ser vender literalmente os seus próprios corpos para conseguir sobreviver em Londres, ou então para conseguir dinheiro e voltar para as suas terras natais. São os indianos, os nigerianos, os turcos, os paquistaneses, os brasileiros que fazem o "trabalho sujo" para que os filhos do Reino Unido possam continuar com as suas mãos limpas. Narrativa poderosa, longe de ser cansativa, que deveria ser vista por aqueles iludidos com a vida do imigrante na Inglaterra.