O excelente filme faz o expectador inserir-se na atmosfera de estranhesa vivenciada pelos personagens logo em seu início. A cidade de Tóquio e seus letreiros luminosos em uma língua diferente das que somos aqui no ocidente habituados, bem como os hábitos japoneses, apesar da modernidade da capital deste país, se impõem demonstrando a distância entre o mundo que se apresenta e aquele de Bob e Charlotte .
O ambiente ressalta a solidão. O imenso ambiente urbano de Tóquio é muito bem explorado no diálogo com solitária Charllote nas janelas de sua suíte.
Perdida em um casamento sem afinidades onde a negação da percepção dela por parte de seu companheiro demonstra a ausência de sensibilidade dele sobre a Charlotte, assim como Bob Harris, imerso em um casamento de 25 anos onde o pragmatismo do dia dia já se sobrepõe ao afeto, demonstram um dos objetivos principais do filme: sentir é importante, ou melhor, fundamental.
Este é, inclusive, o ponto em comum em personagens que parecem ser tão distantes: Bob, um ator em decadência em idade bem mais avançada que Charlotte, uma filósofa de vinte e poucos anos ainda buscando se encontrar profissionalmente e em outros aspectos da vida.
As cenas das caminhadas de Charlotte em templos budistas e com hábitos tradicionais japoneses ou mesmo nas casas de diversão eletrônica de Tóquio demonstram essa busca, bem como apresentam,de maneira bastante interessante, dois lados do Japão.
A aproximação e o envolvimento de Charlotte e Bob é o melhor do que a obra apresenta. Acontece devagar, aos poucos, trazendo o expectador a, junto com os personagens, submergir em sua própria sensibilidade.
As cenas do trabalho do Bob satirizam a obsolescência de sua carreira e contrastam ao mesmo tempo o drama que vive ao se perceber distante também de seus anos de glória e a vulgaridade das situações em que se coloca arrancando inevitáveis gargalhadas de quem assiste ao filme.
Se encontrar, então, nos mostra o maravilhoso trabalho da diretora Sofia Coppola, perpassa pelo sentir. Alimentar -se de sentimento, buscá-lo ou, como nos mostra o filme, encontrá-lo nas imprevisibilidade da vida, ainda que essas sejam efêmeras.
Lindo filme, vale muito a pena assistir, com um belo balde de pipoca ao lado, é claro!