Em 1963 dizer que a dupla protagonista do filme era Audrey Hepburn e Cary Grant já era o suficiente para garantir o interesse do público. E, entre os cinéfilos, até hoje é algo que chama atenção. A dupla de atores se encontrou em “Charada”, uma comédia romântica criminal dirigida por Stanley Donen. Donen foi o responsável por “Cantando na Chuva” e “Um dia em Nova York”, ambos com Gene Kelly. Além da inédita dupla de protagonistas, o longa marca o reencontro do diretor Stanley Donen e Audrey Hepburn após trabalharem juntos em “Cinderela em Paris”. Alie o protagonismo de peso e seu diretor gabaritado com uma trama misteriosa, bem humorada, com suspense e cheia de reviravoltas. Assim é “Charada”, uma obra interessante e bem construída que sabe prender a atenção e interesse de seus espectadores.
Os psicodélicos e coloridos créditos iniciais nos lembram um bom filme de James Bond. Com setas, linhas, formas e labirintos em movimento, nos introduzem ao clima de mistério e investigação ao som de “Charade” composta por Henry Mancini. De forma abrupta vemos um corpo ser arremessado de um trem em movimento e assim entramos na trama. O roteiro de Peter Stone é uma adaptação do livro que ele mesmo escreveu em parceria com Marc Behm. Reggie Lampert (Audrey Hepburn) é uma mulher rica que está de férias em Paris. Ela pretende se divorciar de seu marido, eles têm uma relação de indiferença. Após tentar fugir com duzentos e cinquenta mil dólares seu marido é assassinado. O dinheiro desaparece após o crime. Porém essa pequena fortuna é cobiçada por muitas pessoas, inclusive pelo governo americano. Reggie não sabe nada sobre a vida do marido e nem do paradeiro do dinheiro, mas isso não impede que a moça se torne alvo de assassinos. Em meio a tudo isso ela conhece Peter Joshua (Cary Grant) que a ajuda (Ou não) na solução desse mistério.
São muitas reviravoltas, e várias delas centradas no personagem de Grant. Um texto bem escrito em que nada é o que parece ser, uma corrida pelo dinheiro onde não há regras e o preço pode ser a vida. De mentira em mentira passamos a desconfiar de tudo e de todos. De morte em morte passamos a formar novas teorias e possíveis linhas narrativas. Os assassinos que perseguem Reggie eram conhecidos de seu marido. São eles: Tex (James Coburn), Scobie (George Kennedy) e Gideon (Ned Glass). Completando o talentoso elenco de apoio temos o agente da CIA Hamilton Bartholomew (Walter Matthau).
Repleto de diálogos insinuantes e cômicos, as frases e conversas nos permitem várias leituras. Trazendo até insinuações sexuais. Audrey e Grant demonstram competência e simpatia. A dupla se destaca pela química e por nos convencer como casal. É claro que, ao assistir em 2021, Reggie parece uma donzela em perigo que se apaixona facilmente por um homem que mente e que a engana. Ignorando esse elemento problemático, para a época, a personagem de Audrey era sim forte e contestadora. Dito isso, a relação entre o casal é construída com elegância e o carisma dos atores nos cativa.
“Charada” é divertido, misterioso e com muitas surpresas. Uma trama bem escrita que te faz duvidar de tudo e de todos até seus momentos finais.