“Lavoura Arcaica”, filme baseado na obra do escritor Raduan Nassar e dirigido por Luiz Fernando Carvalho (mais conhecido por seus trabalhos na televisão como nas novelas “Renascer” e “O Rei do Gado” e na minissérie “Os Maias”), acompanha a história de uma família. Um grupo que vivia em uma fazenda, ganhando a vida e o alimento no trabalho nas plantações (para os homens) e nos afazeres domésticos (para as mulheres). Uma família de maioria feminina – fora a matriarca, havia a presença de quatro filhas – e que esperava dos seus homens um papel bastante pré-definido.
A família não interagia muito com outras pessoas e se apoiava, basicamente, no seguimento de uma rotina inflexível e nos ensinamentos do patriarca (Raul Cortez). E era na mesa de jantar, durante as refeições, que eles recebiam os valiosos ensinamentos que são tão típicos e que passam de pai para filho. Sem dúvidas, todos ali viviam um dia-a-dia sufocante e, por incrível que pareça, os momentos na mesa era, de certa maneira, aliviadores.
Tal pensamento não era compartilhado por um dos filhos do casal, André (Selton Mello, que exagera na sua atuação no início, mas logo encontra o tom da personagem), um rapaz claramente diferente e, mais sensível do que o normal. Aparentemente, André é o queridinho da mamãe, prefere o silêncio e os momentos de solidão. Com o tempo, ele passará a ser atormentado por um sentimento que vai de encontro a tudo que lhe foi passado e ao que aprendemos ser moralmente inaceitável, errado e antinatural. Ele se apaixonou pela irmã, Ana (Simone Spoladore, que não diz uma palavra no filme, mas constrói sua personagem baseada em uma excelente presença de cena), e por não conseguir conviver com isto, abandona o lar.
O histórico desta família é revelado para a platéia através de conversas entre André e seu irmão mais velho Pedro, o qual viaja para convencer André a retornar para casa. Os dois travarão uma batalha de pontos de vistas diferentes: enquanto Pedro argumenta que a família de André se desintegrou com a sua partida; este afirma que a família já havia se afastado há muito tempo, a partir do momento em que os ensinamentos do pai deles não condiziam com a realidade na qual ele queria acreditar – e que consistia no fato de que a felicidade (representada pelo amor de Ana) só poderia ser encontrada no seio da família.
Magnificamente fotografado por Walter Carvalho (“Central do Brasil” e “Cazuza – O Tempo Não Pára”), “Lavoura Arcaica” não é um filme fácil de se assistir e nem todos vão sair da sala de projeção se sentindo agradados com o que viram. Seu tema principal é as diferenças de pensamentos que separam cada geração e a rebeldia que nasce disto. André passa o filme inteiro lutando para provar o seu ponto de vista, para mostrar ao pai – e ao irmão – que a “lavoura” de pensamentos deles eram arcaicas. O que ele demora para perceber, assim como acontece com todos os filhos, é o quanto o pai dele estava certo. E não muito longe, ele próprio (André) irá ter a sua própria lavoura, não de pensamentos arcaicos; e sim de pensamentos de vida.