O Último Samurai (The Last Samurai)
"O Último Samurai" foi lançado em 2003 dirigido e co-produzido por Edward Zwick, que também co-escreveu o roteiro com John Logan (roteirista do épico Gladiador) e Marshall Herskovitz (criador da série Once and Again). O longa parte da premissa de uma história criada por John Logan, que foi inspirado por um projeto de Vincent Ward (trabalhou no roteiro de Alien 3, de 1992), com Ward mais tarde servindo como produtor executivo, juntamente com a estrela do filme, Tom Cruise, que também co-produziu.
O soldado Nathan Algren (Tom Cruise) deixa os Estados Unidos rumo ao Japão feudal. Na tentativa de derrotar um comandante, ele é capturado. Algren sabe o destino de prisioneiros inimigos, mas fica surpreso ao ser poupado e se sente atraído pelo estilo de vida dos Samurai, entre outras coisas que ele vai descobrindo com o passar do tempo.
O roteiro de "O Último Samurai" é completamente esplêndido e instigador, pois de fato temos a abordagem em torno do capitão americano, Nathan Algren, um veterano de guerra que ganhou bastante fama ao combater os indígenas no Oeste do seu país. Porém, o que observamos é um capitão extremamente traumatizado e transtornado com o seu passado (onde ele tinha constantes visões dessa batalha), cujos conflitos pessoais e emocionais o colocaram em contato com guerreiros Samurais. A partir do momento que Nathan é rendido e levado como prisioneiro pelo líder dos Samurais, Katsumoto (Ken Watanabe), o roteiro fica ainda mais interessante, pois temos um abordagem de um prisioneiro nada convencional, que passa a admirar o estilo de vida e da cultura daquelas pessoas. Temos aqui o apreço de Nathan pela tradição, pela honra, pelo perfeccionismo da cultura japonesa, o que o leva diretamente a um estado emocional e uma crise de consciência, pois ele estava se identificando mais com os japoneses do que a sua própria nação.
Edward Zwick (Diamante de Sangue) nos premia com este belíssimo épico que aborda a dor da guerra com a serenidade e a calma próprias dos orientais, pois de fato o longa está inserido na ocidentalização do Japão por potências estrangeiras (como o próprio EUA), cujo enredo foi inspirado na Rebelião de Satsuma de 1877 liderada por Saigō Takamori. "O Último Samurai" é um drama que nos retrata de forma poética um tema tão doloroso, tão cruel, tão profundo, tão importante para a história da cultura japonesa. O longa aborda principalmente a guerra e os confrontos, mas nos traz o valor da disciplina, da compaixão, da honra, da tradição, da amizade, nos desperta o interesse de conhecer um pouco mais a história do Japão e principalmente às histórias por trás da cultura dos Samurais.
"O Último Samurai" nos confronta em diferentes aspectos, tanto da cultura japonesa quanto da história do Japão do século 19, pois de fato o longa nos traz os conflitos entre os Samurais e o governo imperial japoneses na era da revolução Meiji, o que é exatamente o foco do filme, soando como um estudo completamente aprofundado na história do Japão Feudal. Por outro lado o longa nos traz um profundo estudo do poder da amizade, da benevolência, da compaixão, que é exatamente como somos confrontados com a relação que vai se criando entre o Nathan e o Katsumoto. Passamos a acompanhar todos os conceitos de valores, como a justiça e a bravura, que é exatamente bem abordado nos mais variados diálogos entre os dois personagens, que vai nos retratando sobre o respeito, a honra, a lealdade, a honestidade, nos mostrando todo o caminho que é trilhado em busca da glória e da ascensão eterna.
A forma como o longa nos retrata a cultura dos Samurais é completamente incrível - como o fato de pouparem a vida do Nathan unicamente porque ele era o último do seu exército e a derrota o desonra, e de fato os americanos não tinham a cultura de se matar por desonra, como os Japoneses faziam, e um Samurai não suporta a vergonha da derrota. Por outro lado o Katsumoto queria conhecer melhor o seu novo inimigo. O que mais impressiona é a busca incessante de Nathan sobre a cultura e os treinamentos, onde o próprio descobriu o significado da palavra Samurai - que significa servir. Ser um Samurai significa dedicar-se completamente a uma série de princípios morais, buscar a inércia da mente e dominar o manejo da espada.
Tom Cruise (recentemente esteve em Top Gun: Maverick) vinha de projetos variados na época, sendo que em "O Último Samurai" ele entrega uma de suas melhores atuações de toda uma carreira (contando até hoje). Tom sempre foi um ator versátil, inteligente, completo, o que nos deixou ainda mais impactados com esta produção na época. Realmente aqui temos um Tom Cruise mais enérgico, mais centrado, motivado, destemido, que sobressaiu em todas as cenas. Por falar em sobressair nas cenas, temos o maravilhoso Ken Watanabe (o inesquecível Saito de A Origem), que assim como o Tom Cruise também se sobressaiu em suas cenas. Foi completamente incrível acompanhar o nascimento daquela amizade sincera e verdadeira, onde podíamos notar todos os seus princípios e seus valores sendo expostos entre ambos. Ken Watanabe trouxe um personagem triunfal e grandioso, onde sua atuação se tornou perfeita, verdadeira e completamente eterna - muito bem coroado com a indicação ao Oscar em 2004. Ainda tivemos uma participação fundamental do grande Timothy Spall (recentemente esteve no maravilhoso Spencer), que deu vida ao Simon Graham, sendo muito objetivo em todo o contexto final. Não posso deixar de mencionar a atriz japonesa Katô Koyuki (do filme japoneses Caçadores de Vampiros), que foi a Taka, uma das grandes responsável pela recuperação de Nathan, sendo determinante para alcançar todo o seu objetivo com bastante empenho. Katô Koyuki é uma atriz doce, singela, meiga, que se destacou e esteve muito bem em cena contracenando principalmente com o Tom Cruise.
A trilha sonora foi completamente determinante para todo o sucesso do filme. Temos aqui a 100ª trilha sonora composta pelo gênio Hans Zimmer, que foi completamente absoluta e profunda em 100% das cenas. Um destaque maior para a trilha sonora da batalha final, que me remeteu diretamente para as composições sinfônicas da banda de metal melódico Nightwish (uma de minhas bandas preferidas). A fotografia de John Toll (diretor de fotografia em Coração Valente) está completamente perfeita, se destacando entre os contrastes dos vilarejos e os grandes campos de batalhas. A direção de arte de Steven Rosenblum (também de Coração Valente) é impecável. Os figurinos estão muito fiéis e completamente dentro do padrão da época.
O longa de Edward Zwick foi indicado a vários prêmios: quatro Oscars - sendo Mixagem de Som, Figurino, Direção de Arte e Ator Coadjuvante para o Ken Watanabe. Três Globos de Ouro - sendo Trilha Sonora para o Hans Zimmer, Ator Coadjuvante para o Watanabe e Ator Drama para o Tom Cruise. Além de dois National Board of Review Awards.
Apesar de todo o sucesso, "O Último Samurai" foi duramente criticado no Japão, por eles afirmarem que o filme passa um retrato muito romantizado de "livro de histórias" dos Samurais, que são considerados mais corruptos.
"O Último Samurai" é um belíssimo filme sobre a cultura japonesa e principalmente sobre a cultura dos Samurais, além de abordar o verdadeiro valor e o poder de uma amizade sincera e verdadeira.
A batalha final é tão apoteótica quanto a batalha final do épico "Coração Valente", que serviu de base de inspiração pro longa. Sem falar que após a batalha final ainda temos uma cena emblemática - nos mostrando que o sacrifício de Katsumoto serviu para despertar o Imperador e subtrair o Japão da órbita do imperialismo americano.
Eu assisti "O Último Samurai" no cinema em Março de 2004 (me lembro como se fosse hoje), naquela época os filmes ficavam vários meses em cartaz. Posso afirmar que se naquela época o Oscar pudesse nomear 10 indicados a Melhor Filme (como pode hoje), com toda certeza "O Último Samurai" estaria entre entre eles.
De fato, "O Último Samurai" é uma obra primorosa, grandiosa, sagaz, contundente, verdadeira, importante, profunda, com um grande valor histórico, e que nos cativa e nos emociona verdadeiramente (principalmente na última parte da batalha final). Um verdadeiro épico, uma verdadeira pérola, uma verdadeira obra-prima - que não está somente entre os melhores filmes da carreira do Tom Cruise, mas integra na lista dos melhores filmes da década de 2000. [18/08/2022]