Filmado em vídeo digital (o que não é, hoje em dia?), "28 days later" é um filme de terror. Melhor, é um filme de zumbis, bem ao estilo dos de George Romero. Começa com a invasão a um laboratório de pesquisa por ambientalistas, que ocasiona a liberação do vírus da raiva. Essa raiva, porém, transforma as pessoas em zumbis sedentos por "mioooolo". 28 dias depois, Jim (Cillian Murphy, sujeito garboso) acorda da recuperação em um hospital, completamente deserto. A seqüência que se segue, onde Jim anda por uma Londres devastada e sem vivalma , é a melhor do filme. São uns sete minutos sem som até ele quase atacado por um zumbi e ser resgatado por dois sobreviventes (Naomie Harris e Noah Huntley). Rola mais uma pá de coisas, mas em suma, eles acabam encontrando um pai e sua filha (Brendan Gleeson e Megan Burns), ajunta-se todo mundo num fusquinha e seguem até o ponto de encontro para sobreviventes, indicado por uma transmissão militar de rádio. "28 days later", como já disse, lembra muito os filmes de Romero, mas remete, em especial, a "Dawn of the dead" (em português, "Zombie..."). Onde este último aproveitava seu tema enquanto metáfora para criticar a sociedade de consumo, o filme de Boyle fala da desumanização do ser humano. E até funciona, pois Boyle e o roteirista Alex Garland (que também escreveu "A praia"...irch!) souberam dosar crítica e entretenimento. É profundo o bastante e divertido o bastante. Eu sabia que Garland não era mau escritor pois "O tesseracto" é um ótimo livro, ainda me restava fé. Em dados momentos do filme, principalmente a troca de pneu mais aterrorizante que já vi, passada dentro de um túnel escuro, agradeci por cadeira de cinema ser poltrona e não de rodas, pois com os sustos que tomava, eu teria me atirado para a praça de alimentação numa velocidade fenomenal. E tudo isso concentra-se no primeiro terço do filme, definitivamente o mais forte. Quando os personagens seguem em busca da suposta salvação, o filme vai ligeiramente mudando ao ponto que os zumbis já não são a atração principal. É como ir para a Disney e não ver o Mickey, sabe? O clímax, esse então parece que é de outro filme. O que mais me irritou foi que o personagem principal transforma-se do nada, de um sujeito passivo a quase um super humano do mal. Por pouco, não vira "Showgirls". Demorou anos para eu me transformar no sujeito ruim que eu sou e devo acreditar que uma pessoa pode acelerar o processo em dias? Dá um tempo... "28 days later" é também, meio previsível. Só que sua previsibilidade é boa, porque ele entrega sem o menor pudor, a crueldade que já se espera. Falando nisso, "28 days later" é bem cruel. Isso é ótimo. Tem também uns vômitos de sangue que são do balacobaco. Não é um filme perfeito (só os do Neville D'Almeida são: perfeitamente ruins, isto é), mas é só falar "zumbi" e você consegue minha total atenção. E "28 days later" é um ótimo filme de terror, com muito mais a oferecer do que isso. A trilha sonora de John Murphy não bomba, mas é excelente e em sintonia com o filme (ao contrário de Prodigy e "Por uma vida..."). Ainda não é a salvação da alma de Boyle, depois de tê-la vendida para o esquemão americano, tem tanto buraco no roteiro que juntos formariam um Grand Canyon, mas definitivamente, um tremendo cavalo-de-pau rumo à direção certa."