É sempre bom quando você fica surpreso ao término de uma exibição. Vou ser bem sincero com você: eu estava esperando uma bobagem enorme. Fiquei surpreso! É lógico que o filme não é aquela obra-de-arte, mas ele é divertido e consegue prender a sua atenção simplesmente pelo carisma indiscutível da dupla principal e pelos seus bem empregados efeitos especiais.
A cena é comum: o pai da família (Tim Robbins) parte para o trabalho deixando aos cuidados da irmã mais velha (Kristen Stewart), Danny (Jonah Bobo), de seis anos de idade, e Walter (Josh Hutcherson), de dez. Estes, ou acabam implicando um com o outro, ou ficarão totalmente aborrecidos, sem ter o que fazer. Quando a implicância entre os dois aumenta e Walter começa uma perseguição, Danny se esconde numa espécie de elevador para pratos. Mas Walter o surpreende e, como retaliação, leva Danny até um porão escuro e assustador, onde (e é aqui que vem o incomum) descobre um velho jogo de tabuleiro de metal desgastado chamado “Zathura”. Depois de tentar, sem sucesso, fazer o irmão jogar com ele, Danny começa a jogar sozinho.
Se a história parece um tanto quanto clichê, ela consegue se superar com o desenvolvimento da trama. E quando eu disse anteriormente que os efeitos especiais foram bem empregados, faz sentido aqui. Estamos acostumados a ver filmes de aventura com muito efeito especial sem sentido. Até em excesso. Mas em Zathura não, eles foram bem executados e fazem 100% parte do roteiro do filme. A chuva de meteoros que fale por si. Bem bolada e extremamente bem encaixada. É lógico que vemos furos na trama, como a TV que saiu do ar, mesmo tudo da casa funcionando (vale lembrar que a casa estava no espaço). Tudo muito confuso. Mas é besteira que dá para engolir.
Para efeito de raciocínio e se você está achando a trama um pouco semelhante a outro filme, vou explicar o porquê. Zathura é considerado uma espécie de seqüência não declarada de Jumanji (1995), que tinha no elenco Robin Williams (Patch Adams – O Amor é Contagioso) e uma garotinha que iria despontar no futuro, Kirsten Dunst (Homem-Aranha). As semelhanças existem em todo o contexto, afinal, ambos os filmes são baseados nas obras do talentoso escritor de livros infantis Chris Van Allsburg (um livro seu gerou uma outra adaptação, O Expresso Polar, com Tom Hanks).
Talvez o que tenha feito o diretor Jon Favreau (de Um Duende em Nova York) aceitar o projeto, sem dúvida alguma, foi a magia que envolve o filme. Se ele procurava um filme que lhe proporcionasse um desafio tecnológico (afinal, belos efeitos e um mundo mágico paralelo), mas que também o permitisse contar uma história estimulante, espirituosa, que trouxesse uma mensagem central forte, ele foi feliz em aceitar o projeto. É lógico que existiram algumas limitações e falhas (furos) no roteiro, mas são detalhes que acontecem em qualquer filme que preza, a priori, pelo entretenimento do público. É tanto que este (público) mal percebe estes furos.
O crédito maior do filme tem que ficar com os dois garotos: Josh Hutcherson (Walter Budwing) e Jonah Bobo (Danny Budwing). Segundo consta, a procura foi longa e abrangente, cobrindo cinco cidades estadunidenses e audições ao vivo com mais de 500 garotos para cada um dos dois personagens. E parece que deu certo. O garoto que faz Danny é infinitamente carismático. É difícil não estar envolvido com o seu personagem. Já o seu irmão Walter, é o típico irmão mais velho. Chato, não dá atenção para o mais novo, mas, no fundo, existe um grande coração. Além dos dois garotos, tem Kristen Stewart (Lisa Budwing), a irmã mais velha. Ela dá seqüência à sua elogiada performance como filha de Jodie Foster no thriller de suspense de David Fincher “Quarto do Pânico”. O que podemos questionar quanto a sua personagem, foi o simples fato de ela andar sempre com pequenos trajes (ela tem apenas 15 anos): shortinhos e blusinhas. Talvez o grande erro tenha acontecido aí (vale lembrar que ela ainda é uma criança para ficarem cultuando o seu corpo). Ainda no elenco tem Tim Robbins (aparecendo pouco), que faz o pai das crianças, e Dax Shepard, que interpreta o Astronauta.
Para finalizar, vale comentar os efeitos especiais do filme. Ficou a cargo de Stan Winston (vencedor de vários Oscar) criar este mundo chamado Zathura. Para quem não sabe, ele que foi um dos responsáveis pelos dinossauros de Jurassic Park. Aqui, ele criou com perfeição os alienígenas saqueadores, os Zorgons. A aparência desses bichos é uma espécie de mistura de crocodilo com iguana e um toque de T-Rex de Steven Spielberg. A casa também sofre muito durante o filme e a equipe de efeitos especiais trabalhou pesado para que tudo ficasse perfeito.
Enfim, é um prato cheio para a molecada e bom entretenimento para os mais velhos. Não deixa de ser uma boa opção, apesar das suas limitações. Não queiram tentar entender o mundo de Zathura, como tudo aconteceu, porque as crianças encontraram o jogo só agora, etc. Não vale a pena. Eu tentei e baixei meu quesito. São coisas que deveriam ser explicadas, mas que não fazem falta para quem está preocupado exclusivamente com a diversão.
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