Quando o primeiro "Homem-Aranha" foi lançado, em 2002, alcançou um estrondoso sucesso de público e crítica. Quando sua continuação foi anunciada, o público ficou em polvorosa, mas a crítica ficou receosa de que o segundo filme seria apenas para arrecadar dinheiro, deixando de lado a história e partindo para a ação, como muito é feito até hoje. Mas, felizmente, não foi isso que aconteceu. Em 2004, Sam Raimi apresentou ao mundo seu "Homem-Aranha 2", um filme tocante, que conseguiu sim superar seu antecessor.
Peter Parker (Tobey Maguire) agora mora sozinho, em um quarto alugado em uma pensão. Tem que equilibrar dois empregos, os estudos e o que lhe toma mais tempo: sua carreira como Homem-Aranha. Tanto que não consegue desempenhar bem nenhuma das tarefas, sendo demitido do trabalho de entregador de pizza e tirando notas ruins na escola. Seu amigo Harry (James Franco) tornou-se obcecado pelo Homem-Aranha, imaginando que ele tinha sido o culpado pela morte de seu pai. Mary Jane conseguiu um trabalho como atriz em uma peça de teatro. E sua tia May está com as contas atrasadas, e corre o risco de perder a casa onde mora.
Peter conhece um de seus ídolos, Otto Octavius (Alfred Molina), cientista que trabalha com financiamento da Oscorp para produzir uma nova fonte de energia. Nesse experimento, Octavius utiliza braços mecânicos guiados por inteligência artificial para manipular o instável trício, elemento raro capaz de criar um verdadeiro sol na Terra. Mas algo dá errado durante a apresentação do trabalho, matando a esposa do cientista e destruindo seu laboratório. Otto é levado desacordado ao hospital para fazer a cirurgia de retirada dos braços mecânicos acoplados ao corpo, mas os braços acordam antes dele e não permitem que os médicos os destruam, causando uma verdadeira chacina na sala de cirurgia. Aqui, como no primeiro filme, percebemos a veia de terror de Raimi, que cria uma cena assustadora e sanguinária. Otto foge para um galpão abandonado à beira do rio, onde é convencido pelos braços mecânicos a roubara um banco e continuar os experimentos.
Enquanto isso, a vida de Parker piora ainda mais. Surge um novo vilão na cidade, seus estudos vão de mal a pior, sua tia está prestes a ser despejada, e para arrasá-lo ainda mais, Mary Jane aceita se casar com John Jameson, astronauta filho do editor do Clarim Diário. Com toda essa pressão, os poderes do Homem-Aranha começam a falhar, e ele decide-se por abandonar a função árdua de defender a cidade como o herói mascarado. Desenvolvendo um personagem cada vez mais atormentado e desanimado da vida, Tobey Maguire nos brinda com uma atuação convincente, e não é difícil se colocar no lugar dele quando é anunciado o casamento de Mary Jane com John Jameson. Já Alfred Molina cria o dr. Octupus, um vilão completamente tridimensional, assim como tinha sido o Duende Verde no filme anterior. É uma personagem atormentado, e não mais um vilão que quer destruir o mundo como em outros filmes do gênero.
É raro um filme de super-herói que dá mais espaço à história do que à ação. Em "Homem-Aranha 2", somos agraciados com um roteiro primoroso, que cria personagens tridimensionais, humanos. As atuações são bem conduzidas, e o drama presente do início ao fim eleva ainda mais o nível desse filme brilhante.
Mas não só de drama vive o filme. As cenas de ação são excepcionais, principalmente a cena da luta no trem. Os efeitos especiais, premiados com o Oscar, estão melhores do que no filme original, assim como a criação dos personagens digitais, que soam convincentes. As cenas em que passeamos pela teia do Homem-Aranha são magistrais, já se tornando clássicas e inesquecíveis.
Por fim, "Homem-Aranha 2" tornou-se um dos melhores filmes de super-herói de todos os tempos, senão o melhor. E provou que, se bem escrita e filmada, uma continuação pode sim ser melhor que o filme original.