Quando Stanley Kubrick, realizou uma de suas obras mais premiadas e contestadoras, “Nascido Para Matar”, muito se discutiu a violência pela qual os soldados eram expostos, não só pela guerra em si, mas pela qual o próprio exercito proporcionava. “Ender’s Game – O Jogo do Exterminador”, do diretor Gavin Hood, é uma obra que não mostra a mesma violência do clássico de Kubrick, mesmo tentando atualizá-lo. Muito menos deveria, pois ambas são obras distintas, mesmo com um ponto em comum.
Para entender, o que parece ser uma incongruência, não é preciso ler a obra do escritor Orson Scott Card, pois o filme sintetiza muito bem a mensagem do livro. Não se trata de criar um herói, que vai evitar a invasão alienígena (muito bem explicada) à terra; muito menos personificar a imagem da esperança (um ataque kamizake é uma forma heroica de se morrer, segundo os mais velhos), numa figura de carne e osso (mesmo porque, não existe combate físico). O filme deixa claro, algo que para os leitores parece nebuloso. Aqui não se discute, a salvação da terra pelas mãos de jovens e sim, como o jovem reage frente ao que a sociedade estabelece.
Se violência é uma coisa cotidiana, enraizada no ser humano, não cabe a nós mudar isso, pois somos parte dessa engrenagem, não mudamos quando eramos crianças, não vamos mudar agora que adultos. No filme, a esperança da paz, esta nas mãos de Ender Wiggin (Asa Butterfield, muito bem), que é exposto à topo tipo de violência verbal e física (e quando reage, percebe que se aproxima cada vez mais do medo e da insegurança), proporcionada por seus superiores (que apostam, que ele será um brilhante líder militar); seja por seus companheiros de equipe, que idealizam nele a imagem do “melhor em tudo”.
Quando ele finalmente ele encontra o equilíbrio e a confiança, em figuras como o coronel Graff (Harrison Ford, excelente) ou sua amiga Petra (Hailee Steinfeld, apática), é exposto, a dura realidade de que, mesmo com os árduos treinamentos físicos e psicológicos, ele não sabe como agir contra o inimigo, pois não o conhece, não o entende, não o ama.
Amar o inimigo é demonstrar admiração e respeito, pois, sendo rivais, ambos tem objetivos opostos, motivações distintas, complicações que o destino impede, que ambos lutem lado a lado, por algo em comum. Não é fácil entender isso, apesar de Hood tentar, à todo momento, simplificar o discurso político e crítico, que a obra de Orson guarda.
Compreender que a violência não é, a única forma de resolução de conflitos, é algo que vai muito além do livro e do filme (a cena inicial da guerra é linda, mas também triste, melancólica), cada um se prende às suas limitações. Hood, explora dessa maneira o que tem de melhor. Um mundo de violência, vai gerar mais violência (Stanley Kubrick, o fez ao expor o suicídio como uma maneira de fuga). Ender é contra ela. Mas sempre se encontra em situações em que não existe outra saída. Não adianta mentir, pois no fim, quando a verdade vier à tona, quem terá as mãos sujas de sangue são crianças e jovens, que se imaginam como heróis, mas se vem como assassinos.