Tracy (Evan Rachel Wood, numa atuação arrasadora) é uma jovem de treze anos como outra qualquer. Ela passa o seu dia-a-dia indo para a escola – ela é uma aluna brilhante -, brincando de bonecas ou jogos com suas amigas, brigando com Mason (seu irmão mais velho) e cuidando das filhas das amigas de sua mãe, a cabeleireira Melanie (Holly Hunter, numa atuação que lhe rendeu uma indicação ao Oscar 2004 na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante).
Por trás de toda esta meiguice e doçura, também se encontra uma menina ansiosa por se encaixar no seu ambiente escolar, por ser aceita pelas outras pessoas e totalmente insatisfeita com a falta de atenção que recebe de seu pai ausente, com as limitações do orçamento doméstico da casa aonde mora – nem sempre ela pode ter aquilo que deseja – e com o relacionamento amoroso que Melanie vive com Brady (Jeremy Sisto), um viciado em drogas que desaparece do mapa por um tempo e retorna quando bem entende para o lar de Melanie, reiniciando todo um ciclo de abusos e vícios, os quais só desgastam a família.
Tracy quer mudar e, por isso mesmo, adota como modelo de referência feminina a também estudante Evie Zamora (Nikki Reed, que co-escreveu o roteiro do filme com a então diretora estreante Catherine Hardwicke, tendo como base a sua própria vida). Evie é uma menina que tem uma postura oposta à de Tracy: ela é fashion, descolada, não se preocupa com a opinião dos outros, é precoce e é idolatrada pelos meninos. Por outro lado, Evie tem uma história de vida misteriosa: ninguém sabe direito quem ela é e de onde ela veio, já que para cada pessoa ela conta uma versão diferente do que se passa com ela.
Tracy quer a mesma coisa para ela, ao invés de se sentir como uma estranha no ninho. Então, começa a fazer coisas com o intuito de chamar a atenção de Evie. A Tracy meiga e aplicada dá lugar a uma Tracy aventureira – ela passa a roubar, a experimentar todos os tipos de drogas e fazer piercings -, displicente com os estudos, desobediente à sua mãe e promíscua, uma vez que ela divide garotos com Evie.
Esta transformação pela qual Tracy passa acontece sobre os olhos de todos os personagens de “Aos Treze”. Ao mesmo tempo, as razões que explicam a transformação de Tracy também estão na cara da platéia o tempo todo. Ela era uma jovem perdida, insatisfeita consigo mesma e com a vida que levava. Tracy pensava que ser igual a Evie acabaria com a sua sensação de vazio, sendo que isso só continuava a crescer, já que ela estava mais sozinha do que nunca e todos continuavam sem compreendê-la.
Viver a adolescência é uma faca de dois gumes, pois ao mesmo tempo em que esse é um momento de descobertas é também um momento extremamente cruel, pois os jovens – sem suas personalidades devidamente formadas – se sujeitam a tudo para não serem excluídos. “Aos Treze” retrata esta fase da vida de qualquer um de nós com perfeição. Os pais deveriam assistir a este filme com os seus filhos, pois, com certeza, entenderiam mais o lado dos adolescentes. A única ressalva que faço contra o filme diz respeito ao seu final: o corte brusco dá a impressão de que a diretora ainda tinha muitas histórias sobre Tracy para contar, ou seja, o filme acaba quando não devia terminar.