'La Ragazza con la Valigia' é uma das melhores obras do genial cineasta italiano Valerio Zurlini, que nunca desfrutou, injustamente, da popularidade de outros gênios de sua época, como Luchino Visconti, Federico Fellini e Michelangelo Antonioni.
Título La Ragazza con la Valigia (A Moça com a Valise)
Diretor Valerio Zurlini
Países de Produção Itália-França
Ano de Produção 1961
Duração 120 minutos
Gênero Drama, Romance
Elenco Claudia Cardinale (Aida Zepponi), Jacques Perrin (Lorenzo Fainardi), Gian Maria Volonté (Piero Benotti), Romolo Valli (Padre Pietro Introna), Corrado Pani (Marcello Fainardi).
Valério Zurlini foi um brilhante cineasta italiano e que se tornou um dos grandes mestres do Cinema, mas que nunca desfrutou da popularidade de Fellini, Antonioni ou de Luchino Visconti.
Talvez uma das razões para isso é que ele não fez muitos filmes. Foram apenas 8 longas-metragens (embora Zurlini tenha realizado inúmeros documentários). Mas aqueles que realizou são excelentes.
E um dos melhores filmes de Zurlini é este.
A história começa com uma jovem e bela mulher (Aida, que é interpretada pela belíssima Claudia Cardinale) e que é abandonada por um playboy rico, membro da aristocracia de Parma (Marcello Fainardi), que lhe fez inúmeras promessas, mas que a deixou falando sozinha, pelo meio do caminho (literalmente), tratando-a como se ela fosse uma otária da qual ele apenas queria se aproveitar.
Aida é abandonada pelo playboy cínico e aproveitador Marcello Marchiorri. Inconformada por ter sido enganada, ela irá atrás dele.
Ela não se conforma com isso e vai atrás de Marcello (que lhe havia fornecido o número de seu telefone, mas dizendo um nome falso de família, Marchiorri, em vez de Fainardi). Ela nunca consegue encontrar Marcello, mas acaba conhecendo o irmão mais jovem deste, Lorenzo, de apenas 17 anos.
Mal vê Aida e Lorenzo fica admirado com a beleza da jovem (afinal ela é a Claudia Cardinale...) e acaba se oferecendo para ajudá-la. À medida que a vai conhecendo melhor, Lorenzo acaba se apaixonando perdidamente por Aida. Sua vida passa a girar em torno dela. Ele deixa os estudos em segundo plano, passa a chegar tarde da noite em casa, enfim, ele muda totalmente após conhecê-la.
Aida percebe, é claro, o que está acontecendo (é impossível não perceber...), mas faz de conta que não nota a crescente paixão de Lorenzo, talvez por temer o envolvimento com um adolescente que mal saiu da puberdade ou, ainda, por não acreditar mais no Amor (a história de vida dela ajuda a explicar essa sua descrença).
Lorenzo acaba por lhe dar presentes e a instala num hotel chique, na esperança de que o seu amor por Aida ainda poderá vir a ser correspondido.
Aida tem uma história de vida caótica, tendo uma experiência e uma vivência muito mais rica do que a do jovem Lorenzo. Ela já passou por poucas e boas, enquanto ele ainda tem uma vida inteira pela frente. Sua inexperiência fica evidente quando ele hesita em tomar a iniciativa com ela, algo que os homens adultos fazem sem hesitar.
Isso fica claro quando ela conta um resumo de sua vida para Lorenzo, em determinado momento do filme. Mas ela também mostra que está totalmente perdida sobre o que fazer da sua vida. Afinal os homens que se interessam por ela querem apenas se aproveitar dela. O único que a ama e sem exigir nada em troca é o jovem e inexperiente Lorenzo.
Talvez aqui esteja uma das principais ideias contidas neste belíssimo filme de Zurlini: Enquanto somos jovens e imaturos, com a vida toda pela frente, ainda acreditamos que poderemos viver um grande amor e sermos felizes. Mas quando atingimos a fase adulta, esse Amor que tínhamos dentro de nós acaba morrendo e nos tornamos falsos, cínicos, mentirosos e hipócritas devido às desilusões acumuladas após tantas tentativas de amar serem frustradas.
Isso talvez explique porque todos os homens adultos com o qual Aida se envolve no filme querem apenas explorá-la e se aproveitar dela. O único que a ama de maneira incondicional é o jovem e, ainda, ingênuo Lorenzo.
O filme tem muitas cenas belíssimas: Zurlini era um admirador de pintura e quando se assiste aos seus filmes nota-se claramente essa influência.
Várias cenas do filme poderiam, muito bem, ser transformadas em pinturas.
Uma das cenas do filme que eu mais gosto é quando Aida, após tomar banho na mansão aristocrática da família de Lorenzo, desce a escada, enquanto toca 'Aida', de Verdi, e o jovem fica literalmente hipnotizado pelo objeto de seu amor, ao qual ele anseia por consumar, embora haja muitos obstáculos por superar (a grande diferença de idade entre eles, as origens sociais diferentes, a formação cultural totalmente distinta).
E ele ainda tem que enfrentar as restrições impostas pela Família e pela Religião, que possuíam um grande poder na sociedade da época. Afinal, um caso de amor entre uma mulher vivida e experiente e um jovem de 17 anos ainda não era algo aceitável na época (estamos falando de 1961, quando o filme foi realizado).
Afinal, a era da contestação promovida pelo Rock, pela Contra-Cultura e pelo movimento Hippie ainda estavam um pouco distantes. E o movimento Beat, que já possuía um caráter fortemente contestatório desde os anos 1950, ainda era algo que atingia um público restrito (mais intelectualizado) e que, aparentemente, ainda não havia chegado à Itália.
Talvez se o filme tivesse sido produzido e realizado alguns anos mais tarde é provável que Lorenzo, literalmente, chutasse o pau-da-barraca, mandasse a Tia mandona e o Padre conservador (que quase chega a comparar Aida com uma prostituta) catar coquinho no meio do mato e fosse viver o grande Amor de sua vida ao lado de Aida, aguentando todas as consequências do seu ato. Eles viveriam de bicos, empregos precários, mas ficariam juntos por um certe período de tempo e seriam felizes.
É provável, até, que o final da história não fosse feliz (nunca era, na obra de Zurlini), mas Lorenzo viveria aquele que seria, com certeza, o grande e inesquecível Amor de sua vida. Aliás, uma das mais belas cenas do filme é quando Lorenzo, depois de colocá-la no hotel e lhe dar presentes, a vê dançando com outro homem, bem mais velho do que ela, e a música que toca diz 'Nunca mais amará alguém como agora'.
Valerio Zurlini fez poucos e brilhantes filmes. Sua obra é uma das mais geniais da história do Cinema. Ele se tornou conhecido como o 'Poeta da Melancolia', pois o Amor, em seus filmes, sempre fracassava. Somente após a sua precoce morte, em 1982, aos 56 anos, é que a sua obra foi redescoberta e recebeu o reconhecimento merecido.
Se o Amor Romântico é, muitas vezes, impossível de ser consumado, a paixão e o amor pelo Cinema não é, pelo menos nessa obra magistral de Valerio Zurlini.
'La Ragazza con la Valigia' é Cinema feito por um Mestre e merece ser visto por todo amante sincero da Sétima Arte.