Gaijin – Caminhos da Liberdade (1980) é um drama brasileiro sobre a imigração japonesa do começo do século XX. Gravado na região do norte pioneiro (PR) mas ambientado no interior paulista, o filme é uma história fictícia, porém inspirada e baseada em relatos de época, que conta a saga das primeiras famílias de imigrantes japoneses que vieram ao Brasil para trabalhar nas lavouras de café das regiões Sul e Sudeste.
Recém-chegado a uma grande fazenda isolada no interior paulista, sem conhecer o local e sem saber se comunicar em português, um grupo de famílias japonesas passa por diversas agruras em um ambiente desconhecido, onde estão sujeitos a uma condição de exploração análoga à escravidão. Tudo lhes é estranho: a colheita de café, o idioma, a alimentação, as enfermidades. Na fazenda, os japoneses conhecem outros trabalhadores, muitos também migrantes, como italianos e nordestinos, começando ali seu processo de inserção na sociedade brasileira. Titoe, uma jovem japonesa, é a personagem principal, e ao longo da história, precisa enfrentar as dificuldades da vida em um país novo, ao mesmo tempo em que enfrenta imposições da cultura patriarcal nipônica.
Trata-se de uma produção com enredo e narrativa bastante limitados, oscilando entre momentos de forte crítica social e momentos de melodrama misturado com humor pastelão, pecando pela excessiva apelação a estereótipos (o italiano fanfarrão, o japonês que só pensa em trabalhar, o nordestino que fala errado, e por aí vai).
Na produção, o pano de fundo do roteiro é a relação de trabalho existente nas fazendas brasileiras do início do século passado (e que ainda perduram em muitas): supressão de direitos, informalidade, exploração do (i)migrante, escravidão. Gaijin destaca a influência dos imigrantes operários italianos para a organização dos trabalhadores, trazendo para o Brasil a tradição sindical.
A opressão da mulher também é tratada.
Titoe, a personagem principal, é uma jovem que, quando adolescente, viu-se forçada a se casar com um japonês para driblar a lei de emigração, segundo a qual mulheres desacompanhadas da família não podiam sair do Japão. Yamada, seu marido, passa a tratá-la como uma posse, inclusive abusando sexualmente da jovem. Este é um aspecto problemático do roteiro: Titoe é representada como uma mulher submissa e passiva diante do mundo, alguém que se acostuma ao sofrimento, passando a amar o marido.
Em resumo, é um filme muito interessante do ponto de vista do relato histórico que carrega. A obra ajuda a compreender o processo de formação do povo brasileiro. Porém, artisticamente, é certo que a produção é bastante limitada, com atuações, narrativa e diálogos que deixam a desejar.