"Dona Flor e seus dois maridos" foi um marco do cinema nacional e vendo o filme pela primeira vez isso é completamente entendível, temos um filme que ousa muito além do esperado, que flerta com poligamia, pecado, pluralidade religiosa, sexualidade feminina e diversos outros temas até então pouco explorados, ou explorados de formas caricadas e criticas, aqui não, temos uma historia que fluir perfeitamente com personagens carismáticos, quebrados e envolventes em uma historia que se desenrola dentre de diversas analogias e parece muito mais profunda do que aparenta.
O roteiro conta a história de Floripedes, uma mulher que mantém uma escola de culinária e é casado com Vadinho, um boêmio, mulherengo e apostador, é melhor não se aprofundar muito em sinopses, pois isso pode acabar estragando um pouco a experiência do telespectador, Bruno Barreto, diretor de sucesso que conduziu o longa soube usar, em primeira instancia, de uma estética sublime, que desde o seu primeiro momento consegue mesclar um surrealismo com uma trilha marcante, que nós é apresentada em diversos tons composta por Chico Buarque, O uso de câmera que Bruno Barreto faz é muito boa também, utilizando muitos zoom in, planos aberto e uma câmera que busca sempre seguir o íntimo de seus personagens, aliando enquadramentos como se fosse pinturas junto com um texto poético, é uma mistura que combina e expõe a aflição de nossa protagonista.
Em termos de atuação Sonia Braga começa um pouco distante do público, mas logo sua atuação toma uma forma confusa e consegue transmitir a dualidade de sentimentos da sua personagem, em contrapartida José Wilker interpretando o polêmico Vadinho está bem demais, roubando a cena sempre que se faz presente, inclusive, um dos poucos problemas do filme é justamente o período de tempo que o personagem sai de tela, nestes momentos o tempo passa devagar e sentimos o peso dos minutos deixando a obra um pouco entediante, outra crítica é quando ao som do filme, sentimos claramente o dedo da pós produção no que tange a remixagem, mas isso não chega nem perto de estragar a nossa experiência. "Dona Flor e seus dois maridos" é um filme a frente do seu tempo, corajoso, muito bem dirigido e atuado, um marco do cinema nacional que faz jus a sua fama. 9/10