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    La Femme publique
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    Nino G.
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    3,0
    Enviada em 19 de junho de 2017
    "La femme publique" não permite traços de sutileza. Seja na realidade, na fantasia ou na mistura entre esses dois polos, tudo se diz ou se mostra em excessos.

    Aos desavisados, cabe o aviso: a obra do diretor polonês Andrzej Żuławski não é descanso nem convite ao olhar contemplativo, tão pouco quer ser analítica. Permite, entretanto muitas reflexões e com momentos de pura poesia, mas sua caraterística principal está na figura inquietante, provocadora, revoltosa e crítica sobre a vida e consequentemente sobre o homem.

    "La femme publique" foi realizado em 1984 tendo com inspiração a novela "Demons" de Dostoevsky. Cenas dessa mesma peça sano utilizadas em um filme que está sendo realizado dentro do próprio filme ou do que seria a história principal "La femme..." essa utilização de metalinguagem, que muitas vezes complica ainda mais o entendimento da obra, rende, em contrapartida, um jogo valioso que até equipara o público com a protagonista da história, a estonteante Ethel (Valérie Kaprisky).

    Equipara no sentido que Ethel é uma jovem aspirante a atriz que não consegue diferenciar atuação e realidade, ao ponto de assumir a figura de uma mulher morta, cujo assassino é o abusivo e deslocado diretor Lucas Kesling (Francis Huster), acrescente a esse enredo a figura de Milão (Lambert Wilson), um imigrante checo que é manipulado pelo cineasta (Lucas) para cometer um assassinato político. Entre esses três personagens que formam um triângulo amoroso que nunca se realiza e nem se quer realizar, acompanhamos os medos, insanidades, desafios e impulsos como arquétipos de um mundo ficcional espelhado ao real.

    Em vários momentos do filme, temos a sensação de estarmos tão perdidos quanto Ethel, e tão como sua personagem, não há ninguém que possa nos dar as mãos, ao contrário, sempre que surge alguém somos agredidos ou verbalmente ou fisicamente, o que estabelece um jogo muito louco e que nos deixa envergonhados, pois quando esse jogo é ficcional (que está sendo rodado durante o filme principal) tais agressões são até bem recebidas, mas quando se revelam na realidade da vida daqueles atores, seres humanos, é de uma agressão pavorosa, embora se apresente um respaldo marcante de que estamos assistindo uma encenação dentro da outra, mas novamente, como é espelhado na vida real, é uma loucura e agressividade comum a vida humana.

    Tanto nos momentos que inserem um set de gravação, um dia de filmagem ou no final do filme, onde os atores tal como em um teatro reverenciam o aplauso do público. Em todos estes momentos que se misturam realidade e ficção, a paleta de tons usadas em "La femme publique" não permite traços de sutileza. Seja na realidade, na fantasia ou na mistura entre esses dois polos, tudo se diz ou se mostra em excessos. Por ter traços tão grosseiros, os momentos de quebra e a incerteza de qual mundo estamos, suavizam esse drama. É interessante notar as referências teatrais que acompanham o diretor Andrzej Żuławsk, não só dos autores teatrais, mas na referência a teatrólogos como Brecht, com seu teatro político com rupturas e fragmentação das cenas, além do "eu" narrador onde a figura do ator é às vezes o intermediário das ideias do autor. Outra referência teatral é de Antonin Artaud é o seu teatro da crueldade, onde os atores buscam em situações e emoções reais para trazê-las e revivê-las no palco, tal como a jovem atriz Ethel do filme, porém, que se perde ao misturar realidade e ficção.

    Embora seja relativamente restrito, Zuławski tece seu próprio conto de violência política com Dostoyevsky. Kesling explica que ele quer adaptar o romance porque é "um conto profético sobre aqueles que tentam mudar o mundo através da violência", e de forma estranha ele se torna a encarnação de Stavrogin e Verkhovensky. Zuławski seleciona cenas-chave de "Demons" para incluir como o filme dentro de um filme e a maioria deles tem a ver com conteúdo político. A cena de uma das reuniões de Verkhovensky é brilhantemente filmada como uma partida suada em uma quadra de tênis interna, onde é declarado que "assassinato, chantagem, extorsão, bombas" serão adicionados à sua agenda, e uma lista de pessoas a serem mortas deve ser redigido imediatamente.

    A câmera nos filmes de Żuławski se encadeza em cenas, avançando nos setas e buscando ativamente os atores, a maioria das cenas de "Femme Publique" é atingida por ângulos baixos e atrevidos que tornam Kaprisky uma espécie de deusa totêmica ou uma alma perdida em meio a edifícios europeus vertiginosos e cavernosos, escadas em espiral e colunas dilapidadas. Mas este é também o seu filme mais suntuoso em termos de iluminação, cortesia do célebre diretor de fotografia Sacha Vierny.

    No mais a atuação dos atores está a altura do filme, mas Valérie Kaprisky com sua Ethel dominam a cena. Se no começo do filme temos a jovem atriz com montes de revistas de atores famosos, ao fim o mesmo acontece com a consagração, mesmo que fantasiosa de Ethel, estampando outro monte de revistas, tornando-se a atriz e mulher publica. O erotismo de Ethel, através do seu corpo, sua dança e sua beleza, que está eternizados nesse filme e decerto estarão durante muito tempo na memória do público.
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