Terra dos livres e lar dos corajosos, sem dúvida alguma, os Estados Unidos da América é um país que chama a atenção por algumas características que são inerentes à sua cultura, como a ambição e o instinto de competição que está inserido na mente de seus habitantes desde tenra idade. O conceito de “sonho americano” está diretamente ligado a essa parte da cultura norte-americana, na medida em que significa a igualdade de oportunidades que é dada a qualquer habitante residente nos Estados Unidos de progredir na vida tendo como base somente o seu esforço e a sua determinação.
No entanto, cada um pode interpretar o “sonho americano” dentro de sua própria realidade, tendo em vista que esta é uma ideia-força que possui um apelo enorme. Por exemplo, para os estrangeiros que procuram os Estados Unidos, anualmente, o país significa a oportunidade que eles têm de tentar proporcionar uma vida melhor para si mesmos e suas famílias – coisa que eles não poderiam fazer em seus países de origem. Já para o protagonista de “Sem Dor, Sem Ganho”, filme dirigido por Michael Bay, esse termo ganha uma conotação um pouco diferente, uma vez que, para Daniel Lugo (Mark Wahlberg), o “sonho americano” significa o fato de ele obter riqueza para levar a vida da forma como ele quiser.
Porém, Daniel Lugo não quer ficar rico pelo seu próprio esforço, pelas suas ideias, pelo árduo suor de seu trabalho como professor de uma academia de ginástica em Miami. Ele quer viver o “sonho americano” ao ser mentor e executor de um crime: o sequestro e a extorsão de todos os bens do empresário Victor Kershaw (Tony Shalhoub, conhecido do público por ter interpretado o papel título do seriado “Monk”) – ele próprio, curiosamente, um representante do “sonho americano”, na medida em que deixou o seu país natal (a Colômbia) e venceu nos Estados Unidos ao se tornar um empresário de sucesso no ramo alimentício.
O roteiro de “Sem Dor, Sem Ganho”, que foi escrito por Christopher Markus e Stephen McFeely, retrata justamente o momento em que Daniel Lugo tem a “brilhante” ideia de ascender na vida por meio do crime e a execução de seu plano, quando ele recruta dois colegas de trabalho – Adrian Doorbal (Anthony Mackie, de “Guerra ao Terror”) e o ex-presidiário Paul Doyle (Dwayne “The Rock” Johnson) – para colocar o planejamento dele em prática. Entretanto, o que chama a atenção desde o princípio na jornada desses três personagens é o quanto eles são despreparados para o que estavam prestes a fazer, por isso mesmo quando as coisas começam a sair do que eles planejaram eles não sabem como lidar com as consequências de tudo aquilo que fizeram.
Baseado em uma história real, “Sem Dor, Sem Ganho” é um filme que surpreende desde o primeiro momento por causa do nome que está nos créditos de direção. Michael Bay é conhecido por ser um diretor de estúdio, um diretor sem muitas características autorais e que está mais interessado em fazer aqueles longas que podem ser considerados exemplares perfeitos daquilo que conhecemos como o “cinema-pipoca”, que não exigem muito do espectador e que visam somente a obtenção de grandes lucros. Tendo dito isso, “Sem Dor, Sem Ganho” é o filme mais diferente da filmografia de Michael Bay e isso é um aspecto extremamente positivo. A obra chama a atenção pelo fato de não se levar muito a sério, tendo em vista as muitas trapalhadas de seus três personagens centrais, e também pelo excelente trabalho de edição da dupla Tom Muldoon e Joel Negron. Porém, ao mesmo tempo, essa mesma edição acaba prejudicando o andamento da trama do filme, na medida em que, em alguns momentos, tudo fica muito sem pé nem cabeça, como o próprio plano idealizado por Daniel Lugo – o que é uma pena, pois essa história tem uma característica muito peculiar, que, se bem trabalhada, poderia ter resultado num filme bem melhor do que o que assistimos.