Muito bom! O maiss curioso deste filme foi a escolha de um diretor até então especialista em filmes de comédia e ação para comandar um suspense sério, denso e maduro como este filme. Brett Ratner já havia se mostrado um diretor competente em outros gêneros e aqui consegue surpreender e realizar um bom trabalho, apesar de convencional e sem correr riscos. Fica evidente que em determinadas cenas, especialmente as de clímax, a presença de um diretor mais visionário deixaria a obra com um peso maior.
Baseado em livro homônimo de Thomas Harris, aqui podemos ver finalmente como Hannibal Lecter foi pego e levado ao manicômio de segurança máxima pelo agente do FBI Will Graham. O mais curioso é ver como Hannibal era um psicólogo forense tão genial que chegava ao ponto de auxiliar a polícia em caçadas a outros seriais killers, mas ele não esperava enfrentar a austúcia, inteligência e capacidade de seu policial parceiro Will, que acabou capturando-o. E posteriormente vem o principal ponto do filme quando o homem que o havia mandado para a prisão, o procura anos mais tarde esperando contar com sua ajuda para capturar um assassino em série que estava aterrorizando a população. Para piorar, esse assassino ainda era fá incondicional do Dr. Lecter e se correspondia com ele por mensagens cifradas.
Ressalto aqui a importância de uma decisão: a dos produtores ao decidirem manter Anthony Hopkins como Hannibal p´referindo rejuvenescê-lo através de maquiagem, o que aliás funcionou muito bem na telona. Seria desastroso alguém assumir o papel eternizado por Hopkins. Neste filme também podemos ver o conflito de Lecter com outro agente que não fosse Clarice Starling e já notavamos sua inteligência e frieza nos diálogos que seriam eternizados nos filmes seguintes.
Este filme volta um pouco mais nas características de "O Silêncio dos Inocentes" e traz à tona um suspense maior, com menos cenas violentas e explícitas. Inclusive a história paralela do assassino é bem parecida com a de Buffalo Bill. Como este filme se passa antes de "O Silêncio dos Inocentes" nos dá muita nostalgia ao vermos o mesmo cenário do filme de 1991 reproduzido fielmente, com o diretor Brett Ratner buscando as referências diretas da fonte do filme de Jonathan Demme (especialmente nas cenas interiores do manicômio), utilizando inclusive as movimentações de câmera, ângulos e closes praticamente iguais aos do filme de Jonathan Demme. Mas essa decisão foi acertada pois retrataria o clima do filme anterior através de referências óbvias. É beber de uma fonte segura e comprovadamente funcional.
A decisão de trazer de volta o roteirista Ted Tally de "O Silêncio dos Inocentes" é acertada e seria praticamente a certeza da fórmula e dos caminhos trilhados no grande filme vencedor do Oscar. Tally conseguiu mais uma vez costurar bem as tramas paralelas e juntá-las com precisão. O elenco é bom, além do óbvio show mais uma vez de Hopkins, vemos uma excelente presença de um elenco de primeira linha encabeçado por Ralph Fiennes, Emily Watson, Mary-Louise Parker, Harvey Keitel, Philip Seymour Hoffman e ainda com Anthony Heald novamente interpretando o Dr. Chilton e Frankie Faison como o carcereiro Barney. Faltou mesmo a Jodie Foster fazendo uma ponta como Clarice Starling se encontrando com Hannibal na cena final do filme. Seria realmente espetacular. Infelizmente Foster não aceitou realizar a participação. Mas a cena dando a entender que ela estava ali no manicÔmio na iminência de falar com ele já nos deixa excitados e loucos para assistir "O Silêncio dos Inocentes" na sequência mais uma vez.
Tenho certeza que o filme conseguiria maior êxito e subiria alguns degraus no conceito caso fosse dirigido por alguém mais experiente no gênero, preferencialmente com a direção de David Fincher, Guillermo Del Toro ou mesmo a volta de Jonathan Demme ou de Ridley Scott. O filme realmente nos remete através de muitas referências anteriores, repete a fórmula do primeiro filme e traz o mesmo roteirista, porém a história não é tão envolvente e cheio de reviravoltas. Durante sua primeira hora o filme é muito arrastado após a cena do confronto de Graham e Lecter, e vai retomando o ritmo aos poucos e somente se recupera mais no final da projeção. Esta obra contém menos cenas espetaculares e marcantes, além de diálogos menos inspirados. Sentimos também que as soluções encontradas para os enigmas são um pouco repentinas. Por esses motivos o filme não se iguala ao perfeito "O Silêncio dos Inocentes" e ao muito bom "Hannibal", mas sem dúvida continua sendo um ótimo filme e que responde a principal pergunta que atormentava os fãs de Hannibal: como ele havia ido parar naquele manicômio?.
De qualquer maneira temos que elogiar a boa fotografia de Dante Spinotti,a boa direção de arte e especialmente à trilha sonora de Danny Elfman, que assim como os outros mestres dos filmes anteriores (Howard Shore e Hans Zimmer) faz um trabalho soberbo. Este terceiro filme baseado no personagem Hannibal Lecter é do mesmo nível de "Hannibal" mas inferior à "O Silêncio dos Inocentes". De qualquer forma deve ser conferido pois se trata de um grande suspense. Aplausis mais uma vez para Thomas Harris na criação de mais um grande enredo. Assistam!