A direção de Don Siegel é eficiente, hábil em criar boas sequências de tensão e um bom domínio narrativo, o filme tem pouco mais de 1h40 e não se estende mais que o necessário (também mérito da montagem), os tiroteios, embora não prezem necessariamente por realismo, funcionam, o filme também conta com boas tomadas aéreas e bom uso do zoom invertido em alguns takes. O roteiro no geral é simplório, mas tudo relacionado a figura do personagem Dirty Harry é um mérito, impulsivo, violento, frio, inteligente e cheio de ódio, um anti-herói bem construído e apesar de ser o policial protagonista, assume algumas posturas questionáveis, tanto legalmente quanto etnicamente, existe um bom embate entre o personagem e a lei na obra.
Se tratando de construção de personagem, o mérito se encerra aqui, todos os outros personagens não possuem o tempo adequado para qualquer desenvolvimento e nem parece ser o foco do longa, o serial killer antagonista, não escapa do estereótipo: violento, inteligente e manipulador, sagaz em utilizar a lei contra Harry, em um bom "toque" do roteiro.
As atuações, seguem semelhantes as construções de persona, Eastwood é o destaque positivo, as várias características que se repetem em vários personagens do ator, casam perfeitamente com Callahan, Clint, além de ameaçador, é hábil em demonstrar carisma, com leves toques de humor, ainda que Harry seja reprovável em alguns momentos. O destaque negativo fica para Andrew Robinson, o antagonista principal, em uma atuação afetada, exagerada em alguns momentos, carecendo de mérito. Reni Santoni e John Vernon estão operantes, sem grande substância. Um defeito do longa, é a trilha sonora extremamente esquecível, havia potencial para incrementar ainda mais as boas sequências de tensão compostas por Siegel, mas sem estas, restam somente uma falta considerável.
Dirty Harry nem de longe é o melhor filme com Clint Eastwood, mas apesar dos defeitos, é um bom suspense policial, que vale a pena ser visto.