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    Pulse
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    3,6
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    Billy Joy
    Billy Joy

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    4,0
    Enviada em 23 de dezembro de 2021
    Estamos mais conectados do que nunca, porém nunca estivemos tão distantes sentimentalmente. Essa reflexão foi objeto de discussão em demasia ao longo dos últimos anos, de tal modo que se tornou até um cliché utilizá-la na construção de uma crítica a respeito da tecnologia contemporânea (o que não elimina completamente sua relevância, especialmente num período de pandemia). É curioso como Pulse, concebido numa época onde a conectividade através de um computador ainda possuía claras limitações, já aborda em sua narrativa elementos vigentes dessa discussão. Chega a soar premonitório como Kurosawa articula aqui uma dramatização no entorno de problemas culturais de seu país para evocar o horror advindo dos dispositivos informatizados.

    Em primeiro lugar, há de se notar como os espaços “analógicos” do filme já sugerem uma decadência que ressoa na condição psicológica dos personagens. Espaços sombrios, demarcados por arquiteturas estéreis e entulhados por objetos, com cantos de aposentos tomados por sombras. O ambiente físico do filme demarca o distanciamento humano, ao mesmo tempo que soa perigosamente convidativo a um devoramento existencial de quem o habita. Kurosawa parece ser influenciado por uma certa noção arquitetônica presente nos filmes de Tarkóvski, em especial Stalker e Solaris. O diretor russo era mestre no uso desta esterilidade para ampliar uma atitude geral de decadência sentimental da narrativa. Kurosawa se utiliza desse referencial, adaptando-o para um ambiente de individualismo e incomunicabilidade muito próprios da sociedade japonesa.

    O horror advindo da manifestação do sobrenatural alcança contornos dramáticos na dialética estabelecida desde o início com a cena de suicídio: uma monotonia existencial que progride até um estado depressivo marcado pela solidão. O que há de místico no filme existe como elemento que exacerba a angústia de uma sociedade incomunicável. A concretude dos espaços opressivos a qualquer noção de vida coletiva parece enfim ganhar vida na medida em que a deterioração mental abre espaço para as abstrações etéreas.

    Essa escalada da informatização no início do milênio parece moldar de vez os espaços para que a tragédia da incomunicabilidade tome conta. O desconhecimento do jovem estudante acerca dos detalhes dessa novidade tecnológica acaba funcionando muito bem como propulsora do medo. Os vídeos surgem espontaneamente nos monitores e conseguem romper os limites da tela através da perturbação causada pelos seus conteúdos e texturas. Desligar um computador não é o suficiente para cessar o horror causado por essas aparições e, mesmo que assim o fosse, não há escapatória quando a tela é intrinsicamente hipnotizadora ao usuário.

    Inicialmente ameaça sobrenatural e fantasmagoria pura, o medo proveniente desses vídeos transfigura-se com a progressão da narrativa. Numa ideia que remete até a possessões, mas que mantém sua força num caráter mais próprio do estado de coisas do filme, a frontalidade das aparições deixam de lado o protagonismo no horror para o aspecto de lembrança que causam na condição depressiva de seus personagens. A artificialidade dos recursos imagéticos empregados por Kurosawa conduz o filme a um estado contemplativo desse terror que sutilmente desenvolve a perturbação através dos seus significados para as individualidades humanas.

    Tais imagens e suas dialéticas entre o que é sobrenatural e o que existe concretamente nos espaços soturnos do filme são propulsores das angústias existencialistas. São como gatilhos que afloram o que existe de mais fatalista no interior de cada personagem, espécies de lembranças acerca de uma tragédia humana atemporal que encontra abrigo nos dispositivos próprios de uma época.
    Cada plano de Pulse é atestador do copo meio vazio.
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