A biografia de Ray Charles ganhou as telonas. A despeito do excelente trabalho do cômico Jamie Foxx que incorporou todos os famosos trejeitos do músico em pauta (a maneira como tocava piano, como se locomovia e falava); mesmo o elenco de apoio ser eficiente, Kerry Washington no papel de Della Bea e Sharon Warren no papel de Aretha Robinson, respectivamente, esposa e mãe de Ray Charles; muito embora a ambientação das casas noturnas das décadas de 50 e 60 tenha sido exuberante; a bela direção de Taylor Hackford (isso, aquele mesmo que dirigiu "O advogado do diabo", para ficar num exemplo mais atual), que concluiu o filme de forma deveras simplista ao elevar Ray a sinônimo dos direitos civis nos EUA; tudo isso é verdade, mas quando os acordes musicais começam a desfilar "Mess around", "Hit the road, Jack", "Unchain my heart" ou "Georgia", é que o espectador tem noção da grandeza da arte deste "Ray". Esta cinebiografia se ocupou basicamente em intercalar os anos iniciais de carreira com eventos da infância pobre, no interior do estado da Flórida. A pobreza, a morte do irmão mais novo, a cegueira, a mãe solitária, trabalhadora, doente e digna, explicam boa parte dos eventos que irão ocorrer na vida de Ray Charles: a obstinação e a dependência de heroína. É importante ser frisado que Ray estava vivo quando as filmagens terminaram. É claro que ele não viu nada - antes que algum engraçadinho de plantão resolva brincar - entretanto, deve ter tido alguma influência na atual de Jamie Foxx, bem como em alguns aspectos do roteiro do filme. Aliás, ele sempre dizia que adorava a música country pelas estórias que eram contadas. E misturar gospel, com country e rhythm & blues foi a receita que fez de Ray Charles um dos nomes mais importantes da música popular do século XX.