Ray Charles, sem dúvida, marcou seu nome como uma lenda da música. Assim como todo músico, Charles teve suas influências: o R&B, o Gospel, o Blues, o Jazz e o Country. No entanto, a maior influência que Ray sofreu não podia ser encontrada em suas composições, e sim na sua personalidade e no tipo de homem que Ray se tornou. Foi a mãe de Ray, Aretha (Sharon Warren, simplesmente fantástica), quem foi fundamental para a vida do músico. Aretha mostrou para Ray, assim que ele ficou cego (aos sete anos de idade), que ele nunca teria que ser tratado como aleijado pelas pessoas e que ele não deveria viver de caridade. Para ela, Ray teria que ser independente. Por estas razões, ela ensinou o filho a se virar desde cedo.
É a influência de Aretha o elemento mais importante da cinebiografia Ray, filme do diretor indicado ao Oscar 2005 Taylor Hackford (“Advogado do Diabo”) e estrelado pelo vencedor do Oscar 2005 de Melhor Ator Jamie Foxx. As lembranças e os conselhos da mãe visitarão a cabeça de Ray nos piores momentos de sua vida.
Ray retrata muito bem todos os percalços e, depois, bonanças que fazem parte da carreira de um músico. Está tudo na grande tela: os primeiros testes, a primeira banda, os empresários inescrupulosos que roubam e exploram os músicos, os companheiros de banda insensíveis, o primeiro contrato com uma gravadora, o primeiro hit, a dificuldade de manter o sucesso e apresentar algo novo, o dinheiro correndo solto, as grandes mansões e, finalmente, a consagração. Entretanto, Ray também mostra um outro lado, o que significava para um artista negro fazer sucesso nos Estados Unidos da década de 50 e ter que lidar com o preconceito (seja ele o racial ou o de mistura de ritmos).
Assim como a música de Ray Charles, Ray é um filme frenético, empolgante e emocionante. O mérito disto é todo do elenco. Jamie Foxx pode não oferecer uma atuação cheia de momentos emotivos, mas sua transformação em Ray Charles é surpreendente. O elenco de coadjuvantes também é excelente, com destaque para as três atrizes que interpretam as mulheres da vida de Ray Charles (além da já citada Sharon Warren, temos Kerry Washington e Regina King).