Anora “Ani” Mikheeva (Mikey Madison) é uma stripper de uma casa noturna de alto padrão, o “Headquarters”, em Nova York, onde ela conhece Ivan Zakharov (Mark Eydelshtein), filho de um milionário mafioso russo, que a contrata por uma semana, se apaixona e decide se casar com ela.
Comédia romântica que começa parecendo uma derivação de UMA LINDA MULHER (Pretty Woman, 1990) mas que toma um rumo bem diferente e excitante (em todos os sentidos). E, se Mark Eydelshtein não é nem sombra de Richard Gere, Mikey Madison se sai muito bem como uma Julia Roberts da geração Z, mais empoderada, mais feroz, mais cínica e bem pouco romântica. A atriz está virtualmente em cada quadro do filme do qual é a cara, a alma e o coração. A simpatia da audiência está toda do seu lado e contra qualquer obstáculo que surja contra a sua felicidade. O diretor, roteirista e editor Sam Baker faz um trabalho estupendo em introduzir o personagem de forma quase informal, quase blasé e, aos poucos, nos fazendo apaixonar por ela. Na segunda metade o filme muda completamente de foco, de ritmo, de cores e de dores. Sem spoilers, mas a entrada em cena de Igor (Yura Borisov) e Toros (Karren Karagulian) injetam muita ação, muito humor e uma nova dinâmica à história, que até então, vinha bastante açucarada. Destaque para Yura Borisov, com seu Igor caladão que vai ocupando o pouco espaço deixado por Madison e vai ficando mais e mais apaixonante.
O filme é uma rajada de ar fresco no gênero comédia, que me fez dar altas gargalhadas (coisa rara) e vibrar como se fosse um filme dos Vingadores. Os rostos novos, a fotografia colorida e suja (sem se tornar feia), a direção de arte caprichadíssima nos detalhes de uma Nova York underground pouco conhecida, o design sonoro ridículo de bom, com direito a música contagiante e a edição... ah, a edição inspirada e impecável do próprio diretor que é quem nos deixa com aquela vontade doida de sair dançando na rua. Recomendo com todas as minhas forças, sem restrições. O filme foi premiado com a Palma de Ouro em Cannes, foi eleito o Melhor Roteiro do ano pelos Críticos de Nova York, top 10 do National Board of Review, e melhor filme pelos Críticos de Los Angeles. Emplacou sólidas 5 indicações ao Independent Spirit, 3 ao SAG, 7 ao BAFTA e 6 ao Oscar.
Para quem ficar com a sensação de já conhecer a gracinha da Mikey Madison sem conseguir se lembrar de onde: ela fez uma pontinha em ERA UMA VEZ EM... HOLLYWOOD (Once Upon a Time in... Hollywood, 2019), de Quentin Tarantino, onde era aquela integrante do culto do Charles Mason em quem o Leonardo DiCaprio taca fogo, na cena final.